Focus Investing

Fonte: http://www.fool.com/news/commentary/2004/commentary04102203.htm

Por Whitney Tilson

Tradução e adaptação de SER-

22 de outubro de 2004

A maioria dos investidores concentra seus esforços na escolha de ações. Mas, acredito que a administração da carteira tem a mesma importância no sucesso de um investimento de longo-prazo. Com isso quero dizer quatro coisas:

  1. Quantas ações devemos ter e quanto em cada posição (que concentração);
  2. Qual deve ser a diversificação de minha carteira (Por indústria, por capitalização de mercado, etc…);
  3. Saber quando comprar mais; e
  4. Saber quando vender

Esses assuntos são muito interessantes, hoje vou me concentrar apenas no primeiro.

Focus investing

Embora existam algumas poucas exceções, como Peter Lynch, a grande maioria dos grandes investidores que conheço praticam o “focus investing”. Eles investem com muito pouca freqüência, apenas quando estão muito confiantes que as chances estão bastante a seu favor, e nesse caso eles apostam alto (não é de surpreender que a mesma tática funciona muito bem em outras atividades como no poker ou na corrida de cavalos. Para aprender mais sobre o focus investing, seja o livro excelente de Bob Hagstrom, The Warren Buffett Way.)

Nas reuniões anuais da Berkshire Hathaway's (NYSE: BRK.A) Warren Buffett e Charlie Munger tem falado sobre esse assunto (clique aqui para os links da minha transcrição das cinco últimas reuniões da Berkshire e da Wesco (NYSE: WSC) meetings). Munger falou, "Se excluíssemos nossas 15 maiores idéias, a maioria de vocês não estaria aqui hoje.…Nós temos essa disciplina de investimento, de esperar pela grande jogada."

Buffett acrescentou:

Eu mantenho xerox de reuniões anuais de 50 anos atrás. [algumas idéias] são tão óbvias. Eu sabia, quando me sentei com o CEO da GEICO há 50 anos atrás que aquela seria uma grande idéia.

Quando começarmos a comprar uma ação, queremos jogar pesado. Não consigo me lembrar de uma posição aonde gostaríamos de ter saído.

Nós cometemos grandes erros começando a comprar alguma coisa que estava barata mas, fora do nosso círculo de competência, mas caímos fora logo que o preço começou a subir um pouco. As grandes idéias são raras demais para sermos parcimoniosos com elas.  

Você não precisa estar certo em tudo ou em 20%, 10%, ou 5% dos negócios que faz. Só precisa estar certo uma ou duas vezes por ano. Você pode ganhar muito se fizer apenas uma decisão lucrativa em cima de uma única companhia. Se alguém me pedisse para indicar 500 companhias dentro do S&P 500, eu não conseguiria fazer um bom trabalho. Você precisa acertar apenas poucas vezes na vida, desde que não cometa nenhum grande erro.

Parece muito óbvio para mim que faz mais sentido comprar mais da sua melhor idéia do que acrescentar uma centésima posição na sua carteira de 99 ações, - e os fundos de ações costumam ter mais de 100 ações. Na maioria das vezes isso é apenas uma "deworsification" estúpida que se parece mais com o investimento no índice do que uma administração de recursos competente. Munger concorda, observando: "é engraçado como a maioria dos fundos não procedem desta  forma [aguardando pela boa jogada]. Eles empregam milhões de pessoas, fazem avaliações da  Merck contra a Pfizer e de cada um dos papéis do S&P 500, e acham que vão conseguir bater o mercado. Você não consegue. Muito poucas pessoas adotarão nossa abordagem." Buffett acrescentou: "Ted Williams, no seu livro The Science of Hitting, disse como ele dividiu a zona de rebote em zonas diferentes e apenas rebate as bolas que caem dentro do seu local favorito. Investir é a mesma coisa."

Tamanho das Posições

OK, vamos supor que você se convenceu que o “focus investing” é a forma correta de se fazer as coisas, e acabou de encontrar um papel que você está atiçando a sua ganância. Que percentual do seu capital você deve colocar nele? 2%? 20%? (ou dada a grande facilidade de se obter empréstimos nos dias de hoje, 200%?) A resposta é, depende de vários fatores, como a sua tolerância a volatilidade, o potencial de alta que você espera obter com ele, e o potencial de baixa. De uma forma geral, a minha carteira ideal tem de 12 a 20 “moedas de 50 centavos que valem um dólar” (e.g., ações que estão sendo comercializados pela metade do que estimo ser seu valor intrínseco), em que cinco são posições que equivalem a 10% da carteira e o resto varia de 5 a 9% .

Eu não escolhi o número de 12-20 ações arbitrariamente. No excelente livro de  Greenblatt, You Can Be a Stock Market Genius, eles nos informa as seguintes estatísticas  (nas páginas  20-21):

*       Possuir duas ações eliminam 46% do risco específico de possuir apenas uma;

*       Quatro ações eliminam 72% do risco;

*       Oito ações eliminam 81% do risco;

*       16 ações eliminam 93% do risco;

*       32 ações eliminam 96% do risco; e

*       500 ações eliminam 99% do risco.  

Uma vez que uma pessoa tenha uma carteira bem diversificada e balanceada de cerca de doze ações, acrescentar mais ações contribuem muito pouco para a redução do risco, e será obviamente uma grande perda em termos de desempenho se você tiver numa de suas melhores idéias posições de 3 a 5% ao invés de 7 a 10%.

Tenha na sua cabeça que não existe resposta certa para isso, eu conheço vários administradores de carteira que só possuem meia dúzia de papéis nas suas carteiras, mas entre 12 a 20 é o nível em que eu me sinto confortável. Você precisa encontrar sua própria zona de conforto.

Houve um ponto na minha carreira de investidor, que eu preferia investir de uma forma mais concentrada – Por exemplo, eu dobrei a minha posição na Berkshire Hathaway para 18% em 10 de março de 2000, um dia que me lembro muito bem porquê foi o dia do último espasmo do papel com investidores correndo para dentro das ações de tecnologia (foi no exato dia que a Nasdaq atingiu o pico de 5.032 – um nível que, gravem as minhas palavras, ela não voltará dentro dos próximos 10 anos).

Embora este investimento tenha funcionado muito bem (eu ainda possuo ações da Berkshire), eu me surpreenderia se investisse de novo uma porção tão grande da minha carteira em apenas uma ação. Por quê? Deixa eu te mostrar as cicatrizes nas minhas costas e contar algumas estórias. Nos últimos dois anos - dois excelentes anos na verdade - eu tive um a queda de 30% em uma ação que eu possuía 10%, duas posições em que eu possuía 7% perderam dois-terços de seu valor (as três depois se recuperaram), e uma posição de 2% em uma empresa que faliu (eu comprei por $6 e vendi por  um centavo! - Droga!). Como conseqüência aprendi que não importa quanta confiança eu tenha num determinado investimento, o futuro é inerentemente imprevisível e todo tipo de calamidades podem ocorrer. Eu ainda pratico o “focus investing”, mas graças ao “Mr. Market” que me ensinou a ter alguma humildade, hoje não sou tão focado como costumava ser.

Medindo minhas porções de ações

Não acrescentarei normalmente um papel a minha carteira a não ser que consiga fazer uma posição de 5%. Se eu não me sentir confiante para fazer uma posição de pelo menos isso, é um bom sinal que não devo possuir esse papel. Um vez que estabeleço essa posição inicial, eu cruzo meus dedos e torço para que o papel......caia. Sim, você leu direito, caia. Por quê? Porquê desejo comprar mais dele para fazer uma posição de 10%, só que necessito de uma margem de segurança maior para fazer isso.

Deixa eu dar um exemplo de um cenário dos sonhos. No final de  2002, o pior ano na indústria alimentícia em 20 anos graças a economia fraca e uma Guerra de hambúrgueres entre o McDonald's (NYSE: MCD) e o Burger King, a ação da McDonald's chegou a seu ponto mais baixo do ano chegando na faixa de $16 . Eu acreditei que, apesar da terrível falha de administração, o McDonald's continuava sendo um dos maiores negócios do mundo e que o novo CEO tinha um bom plano para fazer a reviravolta (veja em "CEO of the Year: McDonald's Cantalupo"). Meu valor intrínseco estimado para ele estava na faixa dos $20, assim, a $16, eu achei que fosse “compra” com uma margem de segurança de 40% -- o suficiente para fazer uma posição de 5% no papel.

Aí eu dei sorte: O McDonald's continuou a produzir resultados ruins e os investidores ficaram muito pouco confiantes no gasto dos consumidores, quando aconteceu a Guerra do Iraque, e o papel caiu para seu preço mais baixo em 10 anos, chegando a $12 em março de 2003. Naquela época, eu entrevistei um antigo franqueado do McDonald's que me deu algumas dicas das dramáticas mudanças positivas que estavam ocorrendo dentro da companhia, só que estes impactos ainda não eram visíveis nos números. Assim, embora aquela ação que eu tinha comprado tivesse sofrido uma baixa de 25% em apenas alguns meses, eu tive mais confiança ainda na minha tese de investimento e tive a oportunidade de comprar mais daquela ação a um preço ainda mais baixo, então busquei meu caminhão em casa e dobrei a minha posição (que possuo ainda até hoje).

Medindo “shorts”

Embora eu faça alguns ‘shorts”, não é um bom negócio por diversas razões, uma delas é que não devemos fazer em grandes proporções pois as perdas são ilimitadas. Se uma ação é uma posição de 7% de longo-prazo a $15, e  tem uma queda e vai para $5, lhe custará cerca de 5 pontos para retornar, mas não lhe colocará fora do negócio, você não será obrigado a vender no fundo – e se possuir convicção e estômago – poderá comprar mais.

Mas o que dizer de uma posição de uma posição short de 7% a $5 que pula para $15? Isso custará a você 14 pontos para retornar, e ainda poderá ser forçado a cobrir sua posição para prevenir mais perdas, mesmo que tenha confiança. É por isso que raramente faço um “short” maior que 2-3% preferindo uma cesta de porções ainda menores.

Opções

Dada a alavancagem explícita das opções, eu costumo fazer pequenas posições – normalmente de 0,5%-2,5%, é difícil passar alguma regra que funcione porquê alguma posições de prazo maior e dentro do dinheiro são muito parecidas com minhas ações, e as posições de curto-prazo fora do dinheiro são muito especulativas.

Especulações


Alguém poderia perguntar, porquê um investidor em valor tão conservador como eu investiria em alguma coisa tão especulativa, mas estou disposto a fazer esses investimentos com uma pequena parcela da minha carteira quando estiver confiante que o valor esperado for muito maior do que eu estiver pagando. Considere um investimento com os seguintes rendimentos esperados em um ano:

*       Perda de todo investimento: chance de 60%;

*       Nenhum ganho ou perda: chance de 10%; 

*       Ganho de 2x : chance de 10%;

*       Ganho de 5x : chance de 10%; e

*       Ganho de 10x : chance de 10% .

Dada essas probabilidades, a espectância de um investimento de $1 é de $1,80, um retorno fabuloso, mas vamos assumir que você só conseguisse fazer esse investimento uma vez. Você faria se soubesse que possui 60% de chances de perder tudo? Tente explicar isso aos seus clientes (ou, pior ainda, para a sua esposa)!

Se fosse fazer esse investimento quanto da sua carteira você estaria disposto a arriscar? Essa não é uma questão hipotética; nas ultimas semanas, eu tive uma oportunidade parecida e resolvi investir 2% da minha carteira.

Conclusão:

Mesmo que existam poucas dúvidas que o focus investing” deva obter maiores rendimento no longo prazo, não existem regras rígidas e definitivas de qual concentração a carteira de uma pessoa deva ter - depende da sua tolerância a volatilidade, a existência de outras opções de investimento, a confiança que você tem em sua própria análise, e diversos outros fatores.

Whitney Tilson é um antigo colunista do The Motley Fool. Em nenhuma circunstância essas informações representam uma recomendação para compra, venda, ou manutenção de qualquer ação. Ele possui ações da Berkshire Hathaway e do McDonald's na publicação desse artigo, embora suas posições possam mudar a qualquer momento. Mr. Tilson apreciaria seu feedback. Para ler outras colunas suas para o The Motley Fool e outros artigos, visite http://www.tilsonfunds.com. O Motley Fool são investidores escrevendo para investidores.

 

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