Pensamentos sobre o Value Investing

Porque investidores aguardam por uma oferta melhor num carro, mas quando se trata de ações eles não conseguem esperar?  Whitney Tilson discute esse tópico efusivo e vital do value investing na sua primeira coluna no “Fool on the Hill”, tentando não apenas dizer o que o value investing é, mas também, o que ele não é.

Por Whitney Tilson

Tradução e adaptação SER-


7 de Novembro de 2000

Com a suspensão do “Boring Portfolio”, eu estarei escrevendo neste espaço toda a terça. Como muitos leitores novos não conheceram a coluna em que eu escrevia, queria gastar um pouco do seu tempo descrevendo primeiro quem sou eu. (Como eu não temos muito tempo, eu inclui os links para as minhas colunas anteriores favoritas; e também links para as 45 colunas que eu já escrevi no meu website.)

Ao contrário de vários colunistas aqui, eu não trabalho para o Fool. Sou administrador de recursos em Nova Yorque, embora esteja o mais longe possível de ser um “trader” típico de Wall Street. Eu tenho trabalhado como consultor e, por muitas vezes, como empresário, tenho um MBA, mas nunca trabalhei numa financeira. Na verdade, não faz muito tempo, eu era um investidor individual como vocês. Eu aprendi a investir por mim mesmo, lendo livros vorazmente, depois administrando meu próprio dinheiro, depois da família quando, finalmente, decidi começar minha própria firma.

O que é investimento em valor?
Eu sou um investidor em valor, mas se você olhar a minha carteira, vai coçar a cabeça e ficar sem entender nada. Eu gostaria de usar o resto dessa coluna e o texto número um para dividir com vocês meus pensamentos sobre investimento em valor, especialmente quando se aplicar à nova economia.

De uma maneira bem superficial, investimento em valor quer dizer tentar comprar uma ação (ou outro ativo financeiro qualquer) por menos que ele vale. Neste caso, “vale” não é quanto uma outra pessoa poderia querer pagar pela sua ação amanhã ou no próximo mês – isto é o “investimento do mais idiota” (“greater fool investing"). Ao invés disso, como eu escrevi no artigo avaliação importa, "o valor de uma companhia (ou qualquer parcela desta companhia, que pode ser, é claro, uma ação dessa companhia) vale, nem mais nem menos, que o dinheiro que pode ser extraído desse negócio, descontado para os dias de hoje."

Um conceito muito simples e óbvio: comprar uma coisa por menos que ela vale: Charlie Munger descreveu isso da melhor forma possível na reunião anual da Berkshire Hathaway, desse ano: "Qualquer forma de investimento inteligente é investimento em valor”. O que todo mundo faz quando vai comprar alguma coisa é procurar por pechinchas, certo? Quantas pessoas vocês conhece que entram numa revendedora de automóveis e falam: “Eu quero comprar seu carro mais popular, a qualquer preço. Aliás, se o preço tiver dobrado a poucos dias eu vou preferir?” Da mesma maneira, porquê alguém deveria evitar comprar se o vendedor tivesse dando um desconto de 25%? E, quantas pessoas iriam comprar um carro baseado nas opiniões de um estranho, sem fazer a sua própria pesquisa?

Então porque tantas pessoas se comportam exatamente dessa maneira quando se trata de comprar ações? A resposta, no meu ponto de vista, se encontra no âmbito da psicologia - a crença que a massa está sempre certa, e o conforto de agir de acordo com que as outras pessoas estão falando. Existe, também, a compulsão pela jogatina e a esperança de obter um resultado melhor. (eu pretendo voltar a tocar nesse ponto depois, no tópico economia comportamental, assunto da minha primeira coluna no Motley Fool, os perigos do excesso de confiança por parte dos investidores, em um de meus próximos artigos). Outro fator que devemos levar em consideração é que o processo de avaliação é meio confuso. É difícil prever possíveis cenários e probabilidades para estimar os fluxos de caixa futuros de uma companhia. Mais isso não é desculpa. Como eu escrevi em uma das minhas colunas mais controvertidas A Arrogância do garimpo de Ações, se você não possui os três Ts -Tempo, Treinamento e Temperamento, que são os três requisitos essenciais para se garimpar ações direito, é melhor você investir por intermédio de fundos mútuos (ou, melhor ainda, em fundos indexados).

Como eu disse na continuação da minha coluna, Mais sobre a Arrogância no Garimpo de Ações, "Acho que é um sinal dos tempos, o fato [desse ponto de vista] ser considerado por alguns como controverso ou petulante. De qualquer forma, eu daria  o mesmo conselho caso vocês fossem enfrentar qualquer outro tipo de desafio: pilotar um avião, dar aulas, começar um negócio, construir uma casa, seja lá o que fosse. Mas, quando se trata de investimento, as pessoas são bombardeadas com informações de que devem se atirar no mercado de cabeça e comprar ações e,  é claro, sem que se faça qualquer menção sobre os riscos envolvidos ou das habilidades necessárias para se investir corretamente."

Eu acho que meus argumentos só chegaram a ouvidos surdos, durante a maluquice que foi esse ano. Talvez, depois que um grande número de investidores pouco cautelosos sentiram a dor da perda no próprio bolso, haja uma audiência maior. 

O que o value investing não é
Muitas pessoas pensam que value investing quer dizer comprar companhias ordinárias com um P/L de apenas um dígito. Enquanto alguns investidores voltados para o valor caíram nessa armadilha (que foi tema da minha coluna, Should Warren Buffett Call It Quits?, em que comparamos Warren Buffett com Julian Robertson do Tiger Fund), eu me sinto céptico em achar que não existe valor de verdade em companhias vendendo a baixos múltiplos, mas que não estejam com suas finanças em dia e que tenham fracas perspectivas futuras. Na sua última Carta Anual, Buffet escreveu: "Se tivéssemos que fazer uma opção entre um negócio questionável a um preço confortável ou um negócio confortável a um preço questionável, nós preferiríamos, sem sobra de dúvidas, o último. Mas, o que realmente chama a nossa atenção, é um negócio confortável com um preço confortável."

O value investing não é, também, não correr riscos. Se a recompensa potencial for muito grande, até o risco de perder tudo é aceitável. Por exemplo, qualquer investidor em valor que eu conheço sairia correndo para investir, pelo menos uma pequena parcela de seus fundos, em um jogo de cara ou coroa em que a coroa pagasse cinco vezes a aposta, mas a cara acarretasse em perda total. (Eu faço um cálculo semelhante quando invisto em venture capital.) Infelizmente, como eu disse em minha coluna do mês passado  Os perigos e perspectivas do setor de Tecnologia, muitas pessoas sofrem riscos enormes, muitas vezes sem saber, comprando ações nas alturas, na crença de que estão fazendo uma aposta quando, na verdade, suas chances reais são muito pequenas.

Isto não que dizer que o Value Investing exclua todas as empresas cujo o P/L alto (embora eu ache, como disse em O formidável desafio da Cisco, que muito poucos negócios de qualquer tamanho podem estar sub-avaliados se estiverem sendo negociados acima de 50x os lucros e, certamente, acima de 100x). Por exemplo, eu comprei Intel no início do ano passado a um P/L aproximado de 25x. Isso pode não parecer uma barganha, mas eu sinto que essa companhia excepcional poderá, com o passar dos anos, gerar dinheiro o suficiente para justificar o preço pago. Apesar da sua perda de fôlego recente, minha opinião não mudou e eu ainda a possuo em minha carteira.

Como esse exemplo mostra. Eu não acredito que o value investig impeça você de comprar ações de empresas de tecnologia. Embora Buffett seja famoso pela sua aversão a esse tipo de ação (o tema da minha coluna,  Porquê Buffet não investe em ações de tecnologia), ele não nega que possam existir pechinchas maravilhosas nesse setor. Ele fala:

"Eu não quero entrar num jogo em que o outro cara leve vantagem. Eu posso passar o ano todo pensando só em tecnologia que eu ainda não serei nem o 100º, 1.000º, ou até mesmo o  10.000º cara mais esperto no pais para analisar esse tipo de negócio. Na verdade, existe uns três ou quatro palmos de coisas que eu não consigo entender. Existem pessoas que conseguem, mas eu não consigo. Pessoas diferentes entendem negócios diferentes. O importante é saber que tipo de negócio você entende e, então, operar dentro do seu círculo de competência. " (encontro anual de 1998)

Eu concito vocês a pensarem no seu ciclo de competência. Entende-lo, e não ir além dele, este é o elemento mais crítico de um investimento de sucesso. Outro elemento crítico é se a firma possui uma vantagem competitiva sustentável.

Conclusão
Value investing é um conceito muito simples na teoria, mas muito difícil na prática. O mercado, mesmo com todos os seus problemas, tem a tendência de ser bem eficiente a maior parte do tempo. Dessa forma, encontrar ações sub-avaliadas não é tarefa fácil. Mas este tipo de abordagem, se seguido corretamente, oferece as maiores chances de ganhos substanciais no longo-prazo em diversos mercados e ainda oferece proteção contra perdas permanentes e significativas.

Na próxima semana eu continuarei com alguns pensamentos de porquê, apesar de ser um investidor em valor, eu abracei o setor de tecnologia.

 Whitney Tilson

 

Textos                  Links             Avaliações          Home