O Restaurante à Quilo do Mercado


Outro dia, no intervalo do trabalho, fomos eu e um amigo almoçar fora. Como o nosso horário de trabalho é reduzido, resolvemos que iríamos almoçar em um destes restaurantes à quilo. Estes restaurantes são uma verdadeira coqueluche em todo o Brasil. Esta é uma excelente forma de se escapar da comida “Fast Food”, cheia de carboidratos e gordura, que nos obrigam a fazer uma hora-extra de bicicleta ergométrica no final do dia.

Este meu amigo recebe um “ticket-refeição” de sua empresa no valor de dez reais, eu não. Na verdade acho que somos dois “glutões” pois nos encantamos por uma boa mesa. Eu aprecio um boa picanha e ele frutos do mar. Saber onde gostaríamos de comer nós sabíamos. Havia um restaurante muito badalado aonde, além dos nossos quitutes preferidos, eram servidas várias novidades da nova cozinha francesa, em um ambiente refinado com bons vinhos e a oportunidade de compartilharmos de uma interessante visão feminina, infelizmente nas mesas do lado.

O problema era o preço. R$ 28,00 o Quilo. Certamente por este preço, meu amigo iria ter que desembolsar uma grana extra e eu antecipar o programa que tinha reservado para o final de semana.

Mais adiante, vimos um restaurante a R$ 10,00 Reais o Quilo. Era uma diferença enorme. A entrada era modesta e não tinha ar condicionado. Resolvemos entrar e dar uma olhadinha. A variedade da comida era muito pequena, apenas 6 pratos diferentes. O peixe que estava na travessa parecia que tinha sido feito ontem. Definitivamente não era o que queríamos. E além do mais, a fila para sentar estava enorme.

Mais a frente esbarramos com um velho amigo de infância. E acabamos resolvendo almoçar os três para podermos colocar nossos assuntos em dia. Ele trabalhava em um banco próximo dali. Sendo um “habitué“ da região, ele nos mostrou um pequeno restaurante, num sobrado na rua de trás. Ficamos surpresos! Bonitinho, bem arrumado e com uma comida mais do que honesta. Belas colegas de trabalho deste nosso amigo entravam e saiam das mesas ao nosso redor, o que aumentou, em muito, a nossa simpatia pelo local. No final, depois de uma saborosa picanha ao alho e um bacalhau nas natas divino, ganhamos uma trufa de chocolate, cortesia da casa oferecida pelo simpático Ferreirinha, o dono do local.

Sabe qual o foi o nosso trunfo? Pagar R$ 15,00 Reais o Quilo! Como ele consegue isto eu não sei, mais pagar R$ 15,00 por uma refeição de excepcional qualidade, ambiente refinado e.. belas companhias !!!! É um verdadeiro achado. E olha que meu amigo conseguiu pagar o almoço com o ticket refeição! Moral da história: acabamos ficando fregueses.

Deixa eu repetir: conseguimos um serviço de qualidade estupenda pagando apenas R$ 15,00 o Quilo. Sabe aquela sensação de dinheiro bem empregado? Foi assim que nos sentimos quando saímos do restaurante. Nem tão caro a R$28,00 que era um roubo pelo serviço oferecido, nem tão barato e ruim à R$10,00. Uma refeição de excelente qualidade, em um excelente local, por R$15,00/Kg . Um verdadeiro achado!

Assim são os restaurantes do mercado financeiro. Só que em vez de procurarmos pelo Preço por Quilo antes de entrarmos no restaurante, nós procuramos pelo Preço por Lucro antes de “embarcarmos” numa ação. O que este índice nos fornece, na verdade, é quantos reais pagamos por cada real de lucro da empresa. As opções são imensas, da mesma forma que as qualidades de lucro. Podemos pagar uma quantidade enorme de dinheiro por firmas badaladas e com grande nome, achando que elas estão indo muito bem. Podemos também pagar muito barato por uma companhia de lucros medíocres e sem nenhuma perspectiva pela frente. Não é porquê são baratas que se tornam um bom investimento. O que realmente importa é pagar um preço que nos dê em troca a mesma sensação de dinheiro bem empregado que tivemos quando saímos do “Restaurante do Ferreirinha”.

Por isto, acredito o P/L deva ser o primeiro quesito a ser pesquisado quando procuramos por uma empresa. Ele deve estar, pelo menos abaixo da média do Bovespa. Depois, temos que ter consciência daquilo que estamos levando por aquilo que estamos pagando. Os investidores são os “Sherlocks” do mundo das finanças. Fazer uma análise qualitativa e quantitativa são muito importantes para o real entendimento de onde depositamos o nosso suado dinheirinho. Deve ser por isto que Benjamin Grahan, o pai da análise fundamentalista, dizia que deveríamos escolher nossas ações da mesma forma que escolhemos frutas na feira, e não como escolhemos perfumes na importadora.

Este índice não é tudo, mas é um bom ponto de partida, pois ele é a balança do acionista que “pesa” quanto de lucro tem dentro da “embalagem” daquele papel. É claro que existem outros quesitos, a taxa de crescimento, o Dividend Yeld , a liquidez corrente etc.., etc,...etc...Mas isto é papo para muito chope. - De preferência no restaurante do Ferreirinha...

 - Você já “pesou” a sua ação ?

Um abraço do SER-

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