Meu Buffetismo Preferido

Parece que todos os investidores em valor têm o seu conceito ou idéia preferida dentre os ensinamentos pregados por Warren Buffet. O meu é ver “através os lucros” ("look-through earnings") de uma carteira. Veja a sua carteira pela “ótica através dos lucros” e saiba o que, exatamente, está indo para o seu bolso.

Fonte: http://www.fool.com/news/commentary/2003/commentary030424.htm?

Por Zeke Ashton

Tradução e adaptação: SER-

24 de abril de 2003

De vez em quando,  gosto de tirar uma tarde longe das minha pesquisas de ações, sentar-me em uma poltrona bem confortável, desencavar a minha coleção de antigos relatórios anuais da Berkshire Hathaway (NYSE: BRK.A) e começar a ler.

Mesmo que eu tenha lido, pelo menos umas cinco vezes, todos relatórios anuais de 1977 até hoje, toda vez que faço uma nova leitura me concentro em alguma coisa diferente que ajuda a me tornar um investidor melhor.  Parece que cada investidor em valor tem o seu “Buffetismo” preferido - alguma idéia ou conceito que Warren Buffet tenha descrito em seus ensinamentos ao longo destes mais de quarenta anos de investimentos.

O meu “Buffetismo” preferido é um conceito que julgo ser extremamente valioso na administração de carteiras. A idéia de “ver através dos lucros”, que Buffet apresentou pela primeira vez em sua carta aos acionistas de 1990, aonde ele explica como faz a avaliação da polpuda carteira da Berkshire. Mas foi só na apresentação de 1991 que ele encorajou seus leitores a utilizar este conceito em seus próprios investimentos. Aqui está um extrato da carta:

Nós acreditamos que os investidores também possam se beneficiar concentrando-se na “visão através dos lucros”. Para calcular isso, ele deve obter os lucros por ação de cada papel da sua carteira e depois soma-los. O objetivo de cada investidor deveria ser criar uma carteira (na verdade, “uma companhia”) que irá propicia-lo a maior “visão através dos lucros” daqui a dez anos ou mais. Enxergar sua carteira nessa ótica irá forçar o investidor a pensar sobre as perspectivas de longo-prazo do negócio ao invés das perspectivas de curto-prazo da Bolsa, uma abordagem que deverá melhorar seus resultados.

É claro que, no longo-prazo, o placar para as decisões de investimento é o preço de mercado. Só que preços são determinados por lucros futuros. Em investimentos, da mesma forma que no basebol, para aumentar o número no mostrador a gente deve olhar para dentro do gramado, e não para o placar.

Aplicando o conceito da “visão através dos lucros”

Aplicar o conceito da “visão através dos lucros” na sua própria carteira é um coisa relativamente simples e você verá que os resultados irão surpreende-lo. Em primeiro lugar, esqueça que a sua carteira é constituída de um monte de ações que não possuem qualquer relação uma com as outras. Ao invés disto, imagine que você está dirigindo uma holding, e que cada ação representa uma “unidade de negócio” do seu próprio conglomerado. Vamos supor que você possua a seguinte carteira:

Dados de 20/ago/04

Companhia

Ticker

Preço

Quant

Total

Perc

Metalúgica Gerdau

GOAU4

61,00

50

3.050,00

19,0%

Magnesita

MAGS5

11,70

300

3.510,00

21,8%

Metal Leve

LEVE4

162,00

20

3.240,00

20,1%

Metisa

MTSA4

79,00

40

3.160,00

19,7%

WEG

WEGE4

7,80

400

3.120,00

19,4%

Valor Total de Mercado

 

 

 

16.080,00

100,0%

 

Como você pode ver, o valor de mercado do seu pequeno conglomerado é de $16.080,00. O segundo passo é olhar através do potencial de lucros dessas ações. Usando o lucro por ação do final do ano de 2003 para todas as companhias, descrevemos a “visão dos lucros” da carteira:

Companhia

Ticker

EPS

Quant

Total

Perc

Metalúrgica Gerdau

GOAU4

6,9338

50

346,69

17,9%

Magnesita

MAGS5

2,083

300

624,90

32,3%

Metal Leve

LEVE4

19,25

20

385,00

19,9%

Metisa

MTSA4

9,3172

40

372,69

19,3%

WEG

WEGE4

0,5066

400

202,64

10,5%

Visão pela ótica dos lucros

 

 

 

1.931,92

100,0%

E agora, o que fazer com isso? Este cálculo pode lhe dizer quanto você está pagando pelas companhias da sua carteira em função da sua capacidade de gerar lucros, em termos médios ponderados.

Nesse caso, nosso investidor imaginário estaria pagando R$ 16.080,00 por uma cesta de ações que demonstraram um potencial de lucros de R$ 1.931,92. Isto equivale a um índice P/L de 8,3 que não é tão ruim assim, comparado com o P/L do Índice Ibovespa de  18,4, de acordo com o Lafis. 

Como as companhias nessa carteira representam “O filé” do Bovespa, pegar o pacote acima com desconto de mais de 50% em relação ao índice me parece um bom negócio. Olhando de outra forma, a carteira acima tem um “Earnings Yeld” (NT- Lucro/Preço, o inverso do P/L) de 11,9%, sob a “ótica através do lucros”,  contra um de 5,5% do Ibovespa, como um todo. É claro que a nossa carteira recebeu um peso maior em função da Magnesita, mas a informação não é menos valiosa por causa disso. A maioria dos investidores individuais tendem a ter uma ou duas ações que dominam a sua carteira, e a “visão através dos lucros” ajuda a identifica-las.

Eu aconselho a vocês fazerem com as suas carteiras o exercício acima. Se você pensa como eu, ficará bastante surpreso com o resultado. Na primeira vez que eu fiz esse exercício, descobri que estava pagando um P/L de 50x sob a ótica da “visão através dos lucros”. E eu que ainda pensava que era um investidor em valor! Quando dei por mim, tinha naquela época na minha carteira: um par de ações no setor de biotecnologia, uma ou duas outras companhias que não apresentavam lucros, e uma ação com P/L maior que 100x !  E olha que nem era necessário possuir muitas ações desse tipo para obter números estapafúrdios no resultado. Definitivamente, foi excelente para mim ver o efeito que duas ações “especulativas” podem exercer sobre uma carteira sob a ótica  da “visão através dos lucros”

Um amigo meu que gosta de investir em ações de tecnologia “emergentes”, descobriu que tinha uma carteira com um “Earnigs Yeld” negativo, o que significa que, como um todo, sua carteira gerava prejuízo, durante o ano passado, e que suas “unidades de negócio” queimavam dinheiro ao invés de produzi-lo. Isto, provavelmente, não é uma boa coisa. 

Na outra ponta, os investidores em valor radicais podem querer construir uma carteira com um P/L médio ponderado de menos de 10, assumindo que estas companhias, como um todo, continuarão a manter seu potencial lucrativo no futuro.

Visão através dos dividendos, fluxo de caixa livre, e outras idéias legais.

Uma vez que você tenha pego a idéia, é muito fácil calcular uma série de e outras medidas na sua carteira. Por exemplo, eu calculei a visão através do Dividend Yeld em nossa carteira modelo:

Companhia

Ticker

Preço

Quant

Total

Perc

Metalúgica Gerdau

GOAU4

2,0725

50

103,63

14,4%

Magnesita

MAGS5

0,6104

300

183,12

25,4%

Metal Leve

LEVE4

6,7523

20

135,05

18,7%

Metisa

MTSA4

5,641

40

225,64

31,3%

WEG

WEGE4

0,18456

400

73,82

10,2%

Ótica dos dividendos

 

 

 

721,26

100,0%

Como você pode ver, com essa carteira, nós teríamos recebido R$ 721,26 de dividendos o ano passado, o que equivale a um “Dividend Yeld” de 4,5% sobre o valor de mercado de R$ 16.080,00.  

Eu pessoalmente gosto de usar o fluxo de caixa livre como meu método de “olhar através” favorito, e costumo certificar-me que o meu fluxo de caixa livre médio ponderado seja baixo o suficiente de forma a manter meu cash flow yeld  próximo de um retorno anual razoável. Você poderá querer fazer uma análise sob a ótica do “olhar através” usando as estimativas de lucro ou de fluxo de caixa para o ano seguinte, para cada uma das ações de sua carteira, ou estender o conceito para o Balanço Patrimonial. Por exemplo, você tem alguma idéia da média ponderada da sua carteira em termos de caixa/dívidas ou dívidas/PL? Isso pode ser bem interessante. 

O conceito de “olhar através” é extremamente útil. Eu acredito que você aprenderá muito sobre a sua carteira brincando com algumas das idéias apresentadas aqui, e também terá uma idéia muito melhor daquilo que você realmente tem no bolso.

Zeke Ashton tem sido um contribuinte do Motley Fool a muito tempo,e é sócio administrador do do Centaur Capital Partners, LP, uma firma de administração de recursos no Texas.  Por favor mande o seu feedback para [email protected].

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