MARGEM DE
SEGURANÇA - A forma de lidar com a incerteza, reduzir risco e fazer mais
dinheiro.
A principal vantagem de comprarmos uma ação quando ela
estiver sendo vendida abaixo da nossa estimativa de valor intrínseco, é que ganhamos
uma margem de segurança para proteger-nos do inesperado. Margem de segurança é
a diferença entre o preço da ação no mercado e seu valor intrínseco. Pelo que sei,
o primeiro livro a falar sobre margem de segurança foi o “The Intelligent Investor”
de Benjamin Graham. Esse é um conceito fundamental
para o investimento em valor.
Margem de segurança é uma coisa muito clara para os “ratos
de liquidações” de shopping-centers. Há algum tempo
atrás comprei um conjunto de tacos de golfe “The Club” que estavam em promoção nas Lojas Target.
Paguei $70 por eles. Antes de entrarem em liquidação, custavam $130. Fazendo
essa compra eu estava economizando $60. Podemos pensar
nesses $60 como sendo a minha margem de segurança.
Fiquei muito satisfeito com a compra, mas quando cheguei
em casa e abri a caixa, vi que o taco número 3 estava faltando. O taco número 3
é um taco muito importante no jogo de golf. Embora
estivesse desapontado pela falta do taco, achava que a compra ainda tivesse
valido a pena. Quando comprei o conjunto, não sabia que o taco número 3 estava
faltando, mas, mesmo assim, ainda me parecia uma bela compra. Apesar da falta
do taco, o grande desconto que recebi da loja fez com que a compra fosse ainda uma
pechincha.
É claro que, se o conjunto tivesse vindo completo,
incluindo o taco N° 3, a vantagem teria sido maior, ou
talvez se eles tivessem me dado um desconto maior pela falta do taco. No mundo
real dos investimentos, não é o que poderia ter sido que importa, mas o que realmente
foi. A Target é uma loja bastante orientada para o
cliente e, certamente, teria devolvido meu dinheiro se eu tivesse pedido. Mas
decidi ficar com o conjunto, porquê achava que a compra ainda era um bom
negócio.
Se eu tivesse comprado ações de uma companhia na bolsa por
intermédio de uma corretora e quando chegasse em casa não me sentisse mais
satisfeito com o papel, e ele tivesse caído, é improvável que eu conseguisse receber
meu dinheiro de volta com a devolução dos papéis. É claro que eles poderiam até
comprar minhas ações de volta, mas pagando o preço de mercado. Certamente eles
não devolveriam meu dinheiro original de volta porquê eu não estava mais
satisfeito com elas. É justamente porquê seus preços caíram que um investidor normalmente
não se sente mais satisfeito com suas ações.
Dessa história toda você deve ter aprendido duas coisas.
Primeiro, que eu jogo com tacos bem vagabundos, e a segunda é que, se após uma
compra, você perceber que alguma coisa mudou para pior, uma boa margem de
segurança ajudará a protegê-lo.
A mesma coisa é válida para quando formos fazer uma compra
no meu site
preferido de leilões on-line, o eBay.com. Quando colocamos uma
oferta numa mercadoria, não teremos inspecionado o material pessoalmente. Estaremos
na total dependência da descrição do vendedor, torcendo pra que ela seja honesta
e precisa. É bom levarmos em consideração que os vendedores estarão tentando
tirar o maior proveito sobre seus produtos, e farão uma descrição maravilhosa da
qualidade e do estado em que eles se encontram. Vamos supor que, se as
condições forem exatamente como descritas, você saiba
que o item que está disputando possui um valor justo de mercado de $100. Você
faz um lance de $60 por ele. A diferença de $40 dará a
você uma margem de segurança que o protegerá dos imprevistos, caso você vença a
disputa.
Pode ser que a mercadoria seja muito disputada fazendo com
que seu preço final chegue muito próximo dos $100. Tudo bem. Sem a margem de
segurança, você estará propenso a deixar a oportunidade para outras pessoas.
Mas, se você conseguir comprar dois ou três itens pelo preço que queria, terá ganho uma boa grana!
Da mesma forma que nos investimentos, se permitirmos que o
ego tome conta da situação, poderemos nos meter em grandes apuros. Você deseja o
produto e não quer perder a disputa. Sempre haverá uma maneira de ganhar. É só pagar
mais. Só que, no final, mesmo que você ganhe a disputa pagando mais, acabará se
sentindo perdedor. Será muito difícil nos sentirmos bem com o resultado se tivermos pago muito pelo item. Essa não será mais uma
daquelas barganhas que você contará vantagem numa roda de amigos! O mesmo
acontece com ações.
Para cada ação que compramos existirão fatores que demandarão
uma margem de segurança. É claro que é muito importante podermos estimar um
valor intrínseco para cada ação de nosso interesse, só que, na prática, existe
muito espaço para que erros potenciais possam acontecer. Se você conseguir acertar
alguma coisa próxima dos 25%, terá feito um excelente trabalho.
Com tantas complicações, estimar o valor intrínseco para
uma empresa não parece ser uma tarefa fácil. Na análise fundamentalista, as companhias
grandes e mais complexas são muito mais difíceis de avaliar do que companhias
menores e mais focadas. Quando analistas profissionais avaliam pequenas
companhias é comum suas estimativas acabarem variando por
um fator de dois ou mais!
Mesmo com as avaliações dos investidores mais experientes
apresentando tanta diferença, é possível fazer dinheiro. Eles ganham dinheiro porquê só compram uma ação quando o preço que pagam
é significantemente menor do que sua estimativa conservadora de valor
intrínseco. Eles colocam a seu favor uma grande margem de segurança, em
razão também da sua própria dificuldade em calcular um valor intrínseco.
Vamos dizer que você avalie um negócio por $100 a ação,
mas sabe muito bem que ele pode valer tanto $125, como $75. É claro que a sua
avaliação pode estar errada, ou até mesmo fora dessa faixa generosa de valores.
Mas, vamos assumir que você seja um avaliador muito habilidoso e que a
probabilidade do valor intrínseco estar fora dessa faixa de preços seja muito
pequena. Como você fará sua decisão de investimento? Como saberá se deve ou não
comprar o papel?
Provavelmente você não comprará o papel por mais de $100,
embora um comprador agressivo possa estar interessado em chegar até os $125. A
um preço de mercado de $75, você provavelmente pulará
em cima do papel, mas poderá ser mais conservador ainda e exigir um preço de
$50 antes de comprar. Esse é normalmente o objetivo de muitos investidores em
valor. Comprar um negócio sólido pela metade do que ele vale, e se possível ainda,
por menos.
A $50 por ação restarão poucas dúvidas de que você estará
comprando um negócio com desconto em relação ao seu valor intrínseco, mesmo
levando-se em consideração as incertezas existentes na hora de avaliar uma
companhia. Exigindo um desconto sobre o valor intrínseco, o investidor poderá,
com grande segurança, superar sua dificuldade em avaliar um negócio com
precisão. Certamente Você cometerá vários erros de avaliação. Mas, no geral, acabará
bem. Você estará protegido pela margem de segurança.
Um investidor muito exigente poderá exigir um preço de
mercado de $10 pela mesma ação. Se essa compra puder ser feita algum dia, esse
investidor terá uma tremenda margem de segurança. Muito provavelmente outros
investidores comprarão esse investimento antes que ele chegue aos $10. Em
compensação, esse investidor extremamente exigente poderá passar o resto da sua
vida sentado em cima de um fundo de renda fixa vendo o tempo passar. Ser muito
exigente acarretará num custo muito elevado em termos de oportunidades
perdidas. Acabaremos perdendo vários investimentos espetaculares.
O investidor menos exigente terá várias alternativas de
compra, mas, em compensação, terá dificuldades em “arrebentar a boca do balão”.
Sua grana será gasta aleatoriamente. O verdadeiro objetivo de um investidor é
ser exigente apenas o necessário! Na minha opinião, uma boa meta é querer
comprar uma companhia pela metade do que ela vale.
Existem outras razões para que investidores demandem uma
margem de segurança, além das incertezas nas avaliações. É que as companhias e
o ambiente de negócio podem mudar com o tempo. Mesmo que um negócio pudesse ser
avaliado com precisão hoje, não existem garantias de que ele não será avaliado intrinsecamente
por menos daqui a alguns anos.
A concorrência pode forçar a companhia a abaixar os seus
preços. A companhia pode perder uma ação na justiça. Ou, a evolução tecnológica
pode eliminar algumas linhas de produtos. Na verdade, uma mudança na economia
pode até acabar com a companhia inteira.
Se você comprou uma ação por $100, quando a companhia
estava avaliada intrinsecamente por $100, e no ano seguinte seu valor
intrínseco caiu para $80, não existe qualquer razão plausível para acreditarmos
que você conseguiria vender suas ações por um preço maior que $80. É razoável assumir que você tenha sofrido uma
perda de capital permanente de $20.
Agora, se você tivesse adquirido o papel por $50, continuaria
tendo comprado a companhia com desconto em relação ao seu valor intrínseco, e
poderia, justificadamente, aguardar por alguma valorização nos seus papéis.
Você terá perdido o taco N° 3, mas ainda deverá se sentir
feliz com a compra.
Quando comprei os tacos “The Clubs”, paguei $70 por um conjunto que valia 130. Isto corresponde
a 54% do preço de mercado de tacos similares (Não, eu não calculei isso antes de
fazer a compra!). Como consumidor, empregar o preço de venda de tacos similares
em outras lojas como padrão de referência de valor intrínseco é plenamente justificável. Mas, para saber o valor intrínseco de uma
ação, é necessário fazermos nossa própria avaliação. Não existe outro lugar
para procurarmos pelo valor intrínseco da ação. Não existem produtos similares,
cujo valor seja precisamente conhecido, para que possamos fazer a comparação.
Infelizmente, a maioria dos investidores acredita que os
preços de mercado representem o valor intrínseco das companhias. É incrível
como o investidor individual prefere abandonar sua própria avaliação e
acreditar que as outras pessoas saibam exatamente o que estão fazendo. Isso
pode ser um erro muito grave. Nunca assuma que o preço passado de uma ação
tenha qualquer relação com seu valor intrínseco. Talvez uma ação tenha sido
vendida por $150 no passado. Isso não quer dizer absolutamente nada. Talvez a
companhia esteja a caminho de uma falência e nunca mais volte a ser vendida por
$150.Talvez demore mais de uma década para que a
companhia chegue a bancarrota ou, talvez, a companhia consiga sobreviver
indefinidamente, mas nunca mais recuperar sua antiga lucratividade. Muito do
que está escrito nesse livro auxiliará a você a calcular sua própria estimativa
de valor intrínseco.
A margem de segurança se aplica tanto a companhias de
valor, como a companhias de crescimento. Muitos investidores em crescimento
seguem uma regra muito simplificada de não pagar por uma ação um P/L maior do que a estimativa da taxa de crescimento da
companhia.
Por exemplo, se a companhia ABC está crescendo a 25% ao
ano tanto em vendas como em lucros, e aparentemente este crescimento deverá
permanecer no futuro, um investidor conservador em crescimento pode estar
disposto a pagar, no máximo, um P/L de 25 por aquela
ação.
Esta regra também poderá ser aplicada a companhias com
crescimento menor. Se a companhia CDE estiver crescendo a uma taxa de 10% o
investidor pagará no máximo um P/L de 10 para ela.
Como em todas as “regras”, não existem casos seguros e que
funcionam o tempo todo. Um P/L de 12 ou 15 para uma
firma extremamente estável e segura financeiramente e que esteja crescendo a
10% pode ser bem razoável.
Você poderá muito bem não querer pagar um P/L de 20 para uma firma de alto crescimento, que esteja
crescendo suas vendas e lucros a 30%, se ela estiver muito endividada.
O objetivo é comprar companhias que apresentem crescimento a preços razoáveis. Essas
companhias são chamadas de GARP (Growth-at-reasonable-price).
Como as taxas de crescimento superiores a 25% são muito difíceis de serem mantidas, muitos investidores empregam um número P/L de corte por volta dos 25. Eles nunca pagarão um P/L superior a 25 por qualquer
companhia. O melhor dos mundos é conseguir comprar uma excelente companhia
de crescimento a preço de investidor em valor.
Investidores que pagam um P/L de
500x por companhias novas e não testadas, mas que estejam
crescendo rapidamente, não possuem qualquer margem de segurança a seu
favor. Um crescimento exuberante no futuro nunca é garantido. E, mesmo que as
vendas consigam crescer aceleradamente, os lucros podem não conseguir subir a
mesma taxa. Se a companhia titubear, seu preço pode facilmente cair para 50x os
lucros. E olha que essa ainda seria uma avaliação muito alta pelos padrões GARP!
Segurar uma ação dessas durante uma correção desse porte em avaliação podem
custar ao investidor até 90% do seu capital. E, ao contrário daqueles investidores que compram suas
ações próximo ou abaixo do seu valor intrínseco, o dono de uma ação dessas
não possui qualquer base sustentável para acreditar que essa companhia vai algum
dia retornar ao seu P/L de 500x !
Vários estudos têm demonstrado que comprar empresas com os
maiores P/Ls da Bolsa geram
resultados inferiores ao índice. Investidores cegos e gananciosos no que se
refere à margem de segurança são um ameaça ao acúmulo de capital de
longo-prazo. Nunca tenha medo de perder a próxima Microsoft se ela estiver
sendo vendida a um P/L de 100, ou maior!
Discutimos porquê possuir margem de segurança ajuda a
passar por cima da inabilidade do investidor avaliar com precisão uma
companhia. Vimos também como isso reduz o risco de perdermos
capital. Com uma margem de segurança alta sofremos menos risco.
Poderemos erradamente supor que fazendo isto teremos menos possibilidades para conseguirmos
grandes retornos potenciais. Isso equivale à crença popular de que para se obter
um retorno maior é necessário correr mais riscos.
Mas, se pararmos para pensar um pouco sobre isso, concluiremos
que quanto maior a margem de segurança de um investimento, maior será seu
potencial de subida.
Considere uma ação que possua um valor intrínseco de $100.
Comprar esta ação por $50 oferecerá a possibilidade de um bom retorno. Mas se a
ação cair para $20, e você comprar nesse ponto, terá maior potencial de
apreciação de capital. Em ambos os casos, se a ação voltar para próximo do seu
valor intrínseco seu preço irá para $100.
No primeiro caso, seu dinheiro terá dobrado de valor no
período. No segundo seu dinheiro terá se apreciado cinco vezes. Se observarmos
bem, o maior retorno está associado a comprar a ação quando ele oferecer a
maior margem de segurança, o que significa menor preço. O investimento que
apresenta o maior potencial e retorno é também aquele que oferece inerentemente
o menor risco.
Uma margem de
segurança normalmente desacreditada
Suponha que uma ação que estava sendo vendida a $200 caia
para $100. Se você comprasse esta ação teria uma margem de segurança de $100? Não,
porquê a margem de segurança não mede a relação entre o preço atual e um preço
passado. Ela mede a relação entre o preço atual e o seu valor intrínseco.
Muitos investidores costumam comprar ações que tenham
caído de preço de mercado. Eles acreditam que essas ações tornaram-se mais
seguras agora. Teoricamente por este motivo, as melhores ações seriam aquelas
que tivessem caído mais em preço de mercado. Estudos têm demonstrado (veja, por
exemplo, o livro What works on Wall Street)
que comprar ações nessas condições é uma das piores estratégias de
investimento. Ou, como escreve Peter Lynch investir
nesse tipo de ações é como tentar pegar uma faca caindo.
Embora a experiência pessoal seja importante para o
desenvolvimento de uma estratégia de investimento, costumo varrer a Bolsa
procurando por turnarounds.
Concentro-me nas ações que tenham caído mais nos últimos um ou dois anos. Procuro,
por exemplo, por ações que estavam sendo vendidas anteriormente por $40 e que estão
agora a $4, o que pode representar bastante terreno
para que as empresas que conseguirem dar a volta por cima com sucesso, subirem.
Na maioria dos casos, as ações costumam cair mais ainda até
terminarem na bancarrota. Isto acontece independentemente
de compararmos a posição financeira da companhia com outras companhias do mesmo
setor, e independentemente de efetuarmos
uma análise fundamentalista que demonstra que a companhia ainda possui uma
posição financeira “razoável”.
Concluo dizendo que em qualquer época sempre existirão um
monte de companhias medíocres que terão caído recentemente e que ficarão cotadas a esses preços permanentemente. Além
do mais, não dá para confiar cegamente nos relatórios publicados por essas
companhias. Uma coisa é comprar barato uma companhia como a Dell ou a Merck e outra, completamente diferente, é
comprar uma companhia pouco comercializada, que caiu definitivamente, e que
nunca ouvimos falar. Sempre comece sua
busca procurando por companhias de qualidade.
Eu costumo fazer uma lista com cerca de 20 companhias
cujas ações eu adoraria possuir, mas que considere que estejam
muito sobre-avaliadas. Depois fico esperando que o mercado as derrube.
Se a bolsa cai e o preço da ação da companhia cai também, considerando-se que
nada tenha mudado fundamentalmente na companhia, você estará diante de uma oportunidade de
investimento. Você não terá que gastar um monte de tempo para decidir se vale ou
não a pena comprar aquela companhia. Você já fez isso antes. É claro que você
poderá comprar também um pouco mais das companhias de qualidade que já possui em
carteira se elas caírem junto.
É muito mais fácil fazermos uma análise fundamentalista e
calcularmos o valor intrínseco de uma companhia pequena. Isso é mais claro ainda
se estivermos tentando fazer uma avaliação detalhada de uma companhia para
estimar seu valor intrínseco analisando, por exemplo, sua linha de produtos e
tentando avaliar as tendências dos lucros futuros advindas
de uma nova linha. Esse tipo de análise está além do que a
maioria dos investidores individuais irão fazer, gostariam de fazer, ou
teriam tempo para fazer.
Um dos melhores livros de investimento de todos os tempos Common Stocks And Uncommon Profits
de Philip A. Fisher, enfatizava que o verdadeiro valor
por trás de uma companhia é o seu pessoal, a qualidade da administração, as inovações,
a dedicação aos consumidores, e outros tantos fatores que não constam no Balanço
Patrimonial ou Demonstrativo de Resultados. Esses quesitos não podem ser avaliados
por demonstrativos anuais.
Philip chamava isso de “Scuttlebutt” (NT: algo como rumores e fofocas), a forma
de pesquisarmos sobre uma companhia que envolve a conversa com pessoas de
dentro da instituição, consumidores, e com companhias que fazem negócios com
ela, para termos uma idéia do sentimento de qualidade sobre a companhia. Depois,
dependendo do que você irá aprender sobre a companhia, ou perderá o interesse por
ela ou elaborará novas perguntas.
A premissa geral é que companhias éticas e de qualidade
terão maior probabilidade de se tornarem companhias de crescimento que subirão
fortemente no futuro. Não existem dúvidas de que isso seja verdade. O método Scuttlebutt nos
auxilia a procurarmos por companhias com linhas de produtos lucrativas e que
lançarão produtos inovadores no mercado no futuro.
Para o pequeno investidor, aplicar o método Scuttlebutt é
muito difícil, para não dizer impossível. O CEO não vai parar tudo que ele está
fazendo para sentar-se e conversar com você. Talvez, você não fizesse isso nem mesmo
se tivesse essa oportunidade. Esse é um fator intangível que faz com que a avaliação
de uma pequena companhia pelo investidor individual com pouco capital para
investir, seja uma missão quase impossível. Como você iria avaliar as entranhas
de uma pequena companhia que despontou nas suas pesquisas como bastante sub-avaliada? A não ser que você seja intimamente familiar
com uma dessas companhias, como diz o personagem de Al Pacino
em Donnie Brasco: “Forget about it”.
Aí eu pergunto, “A Merck é uma
companhia de qualidade?” “A 3M é uma companhia de qualidade?” A maioria das
pessoas de negócio invariavelmente vão dizer, “sim” Como você sabe isso? – “Gulp, bem, quer dizer...”
Na era da informação em massa, ler jornais e revistas como
o The Wall Street Jornal e Forbes e ouvir aos noticiários financeiros nos darão uma boa
idéia de quais são as maiores companhias listadas, as de maior qualidade, e as firmemente
estabelecidas. As famosas Blue Chips. As grandes
e ótimas companhias que todo mundo conhece. Você não sabe dizer exatamente como
ficou sabendo que essas companhias são ótimas; mas você sabe. Coloque-as na
lista de grandes companhias que você gostaria de ter.
Aonde a margem de
segurança não protegerá você.
Existem pequenas áreas em que você deve ser bastante
cuidadoso, porquê a margem de segurança não irá oferecer proteção adequada. Vimos
que margem de segurança nada mais é do que comprar valor, e que as companhias
de qualidade e bem estabelecidas são um dos melhores lugares para procurarmos
por valor.
Nunca acredite que uma margem de segurança grande irá protegê-lo
em um investimento em companhias de um setor muito instável e com baixas
margens de lucro. Por exemplo, as companhias de varejo e os restaurantes vão a
falência muito constantemente. Uma grande margem de segurança em companhias
como essas poderá ser rapidamente corroída. Da mesma forma, as companhias
pequenas e menos estabelecidas, que não apresentarem um histórico de lucros e nem
um passado de sucesso, nunca oferecerão uma boa margem de segurança.
Finalmente, podemos dizer que companhias pequenas de
alta-tecnologia terão sempre uma margem de segurança menor do que as companhias
industriais, porquê a rápida mudança de tecnologia nesses setores podem afetar
severamente essas companhias. Esse é um dos motivos pelo qual aconselho a investir
em ações de tecnologia por intermédio de um fundo de investimentos. É melhor
apostar no crescimento generalizado de todo o setor, do que na sua habilidade
de selecionar algumas das pequenas empresas de alta-tecnologia que poderão
crescer enormemente.
O Valor Patrimonial
como Margem de Segurança
Além de considerarem o desconto em relação ao valor
intrínseco como uma medida de margem de segurança, muitos investidores em valor
também gostam de comprar ações com baixos valores patrimoniais por ação como
forma de obter uma margem de segurança extra. O valor patrimonial por ação é
definido como:
Valor patrimonial por ação = Ativos – Ativos intangíveis – Passivos
______________________________
Número de Ações
A equação acima representa uma aproximação do valor que a
companhia teria caso fosse liquidada. Primeiro seremos conservadores e vamos
assumir que todos os ativos intangíveis possuam valor zero. Consideraremos
apenas os valores dos ativos constantes no Balanço Patrimonial. Na dúvida,
excluiremos qualquer ativo duvidoso.
Por exemplo, o estoque que não seja vendável deve ser
subtraído quando calculamos o valor patrimonial por ação. É bom lembrar também que
os valores contábeis dos ativos descritos no Balanço Patrimonial não
correspondem aos seus valores de mercado. Na verdade, eles correspondem ao
custo original, menos uma taxa pelo “gasto” do ativo durante um período de
tempo.
O “gasto” do ativo durante um período de tempo é chamado no
Balanço Patrimonial de “depreciação”. Isso não deve ser confundido com o gasto físico,
que também é conhecido por “depreciação”.
O ideal seria que a depreciação dos ativos da companhia
correspondessem exatamente ao seu desgaste físico. Infelizmente, isso não é
sempre verdade, uma vez que algumas companhias vão dando
baixa nos seus ativos mais rapidamente do que eles se desgastam
fisicamente. Outras companhias depreciam seus ativos mais lentamente do que o
desgaste físico. Por outro lado, alguns ativos que foram depreciados contabilmente
se valorizaram. E alguns ativos possuem um preço de aquisição muito maior, ou
muito menor, do que seu valor de mercado. É por isso que considero que o valor
patrimonial é apenas uma aproximação do valor de liquidação da companhia. Se
você estiver comprando toda uma pequena companhia, deveria antes de fechar o
negócio fazer uma avaliação dos seus ativos a preço de mercado. Como um investidor
que está comprando apenas algumas ações na Bolsa, avaliar o preço dos ativos de
uma empresa não é uma opção viável. O melhor que se pode fazer é empregar o valor
indicado no Balanço Patrimonial e depois fazer alguns ajustes.
Os ativos intangíveis incluem patentes, marcas, goodwill, valor
de franquia, etc...Os ativos intangíveis podem até ter valor de mercado, mas
nós os desconsideramos. Desprezar os valores intangíveis de uma companhia
quando calculando seu valor de liquidação é uma outra forma de se obter margem
de segurança. Depois disso, todos os passivos serão subtraídos dos ativos tangíveis
nos fornecendo o valor de liquidação da empresa. Dividindo o montante
encontrado pelo número de ações, encontraremos aquilo que teoricamente cada
acionista receberia caso a companhia fosse liquidada.
Estudos têm demonstrado que comprar companhias do setor
industrial quando seu preço está baixo em relação ao seu valor patrimonial (retirado
diretamente do Balanço Patrimonial) é outra estratégia vencedora. Embora para
as companhias do setor de serviço e tecnologia, esse valor possuir muito menos
significado em relação ao valor “real” da companhia.
Como Michael Gianturco descreveu
no seu livro How to Buy Technology Stocks, o valor
patrimonial de uma companhia de tecnologia diz muito pouco sobre a sua
capacidade de gerar riqueza. Os Ativos intangíveis de companhias como essas
podem ser significativamente altos. Veja, por exemplo, o caso da NuSpeed, que não possuia vendas e foi fundada com apenas 2,6 milhões de
dólares e, nove meses depois, foi comprada por $450 milhões pela Cisco Systems. A Cisco logicamente não estava pagando pelos
ativos tangíveis. A Cisco estava pagando pelos intangíveis.
Estaremos assumindo implicitamente que companhia gera mais
valor funcionando do que liquidada. Uma companhia que possua menor valor
funcionado do que em valor patrimonial, normalmente deveria ser liquidada. Na
prática, isso acaba não acontecendo. O que ocorre normalmente é que a companhia
continua na briga e acaba adquirindo mais dívidas ainda. Aí, ou o valor de
liquidação acaba em zero, ou a companhia adquire um excesso de valor puramente
patrimonial, e termina sendo vendida para outra empresa.
© 2000 by Peter Hupalo,
all rights reserved.