http://www.fool.com/news/commentary/2005/commentary05071206.htm
Por Bill Mann
(TMF Otter)
Tradução e adaptação de SER-
12/07/2005
A melhor forma de investir é quando
fazemos isso como se estivéssemos num negócio. Foi isso que Benjamin Graham nos
ensinou. Seu livro, The Intelligent Investor, é considerado por muitos como o
melhor livro sobre investimento já escrito. Foi publicado originalmente em
1949, e continua editado até hoje, tendo sido recentemente atualizado
carinhosamente por Jason Zweig.
Alguns podem pensar que o livro que é
considerado o “supra-sumo” dos textos sobre investimentos já escritos deva
abordar coisas complexas e efêmeras. Ao invés disso, o objetivo do Intelligent Investor é
muito simples: ajudar o
investidor a construir as bases para poder investir em títulos e ações. Não
existe nenhum discurso sobre osciladores de qualquer tipo, não é feita qualquer
menção sobre força relativa, e não há nenhuma dica sobre finanças estruturais.
Minha filosofia de investimento mudou quando li uma linha do Intelligent Investor. Ela dizia: "Perspectivas óbvias no crescimento físico de um negócio não se traduzem em lucros óbvios para investidores”.
Tradução: Se você está procurando
investir em companhias que possuem, por exemplo, um potencial de crescimento
espetacular, tem que se certificar que este potencial de crescimento não tenha
sido ainda precificado. Se todo mundo sabe que a companhia
irá crescer 15%, então este crescimento já estará computado no preço da ação.
Comprar o óbvio não irá necessariamente te levar para a terra prometida. Um
exemplo de Graham ajuda a entender.
Em 1949, o setor de companhias aéreas era
o de crescimento óbvio. Sim, a Delta (NYSE: DAL) e a Continental (NYSE: CAL), e outras
tantas companhias aéreas domésticas e internacionais são hoje muito maiores do
que eram a seis décadas atrás. Esses negócios quase nunca foram arapucas para
investidores. Por que? Primeiro devido a suas características econômicas, e
segundo porquê o crescimento econômico que se esperava que fosse acontecer,
aconteceu, só que já estavam completamente precificados
nas ações.
Procurando por exemplos parecidos nos
dias de hoje? A Sirius Satellite Radio (Nasdaq:
SIRI) está crescendo e, devido a sanções governamentais, se tornou um
duopólio junto com a XM Satellite Radio (Nasdaq:
XMSR), ela tem o que pode ser descrito como uma fossa, repleta de
crocodilos, tartarugas ferozes, pestes, e um terrível mal cheiro ao seu redor.
Ninguém vai querer cruzar a ponte levadiça que leva até o reino da Sirius. Sabe o que mais, as pessoas adoram rádios
via-satélite. Existe crescimento e proteção. O que mais um investidor poderia
querer?
Hoje me parece que cada pedacinho desse
crescimento já está embutido no preço da ação. As pessoas que tomam conta da
empresa terão que fazer algum esforço sobrenatural para gerar valor acima das
expectativas. Será que conseguirão? A possibilidade certamente existe. Mas,
mesmo que ela consiga crescer a taxas superiores que as de hoje, terá que
superar o que já está implícito nas expectativas atuais -
Expectativa essas que são bastante óbvias para qualquer um que esteja gastando
mais do que alguns segundos pensando sobre a companhia.
Então isso quer dizer que precisamos nos
focar em coisas pequenas, certo? Valor não aparece na
superfície, temos que mergulhar mais fundo.
Sim, isso vai um pouco além, sparky
Imagine a seguinte conversa na empresa Creampuff Inc.:
John Trahan: (atendendo ao telefone) Departamento de Catalogação, John falando.
Acionista: Bom dia, você é John Trahan?
John Trahan: Claro, é por isso que atendi ao telefone
falando "John Trahan”.
Acionista: É isso que está escrito aqui do lado do número do telefone.
John Trahan: Posso ser útil em alguma coisa?
Acionista: Sim, por favor. Meu nome é Kobayashi. Sou acionista da Creampuff.
John Trahan: Engraçado você não tem sotaque chinês.
Acionista: Você deve estar querendo dizer japonês.
John Trahan: Isso, era isso que
eu queria dizer.
Acionista: Não tem importância. Na verdade eu nasci em Sacramento. A razão do meu
telefonema é para falar sobre o seu desempenho no trabalho.
John Trahan: Meu o que? !
Acionista: Seu trabalho. Veja, você já está aí há seis meses. E a sua avaliação de
desempenho que a administração me mandou está muito ruim. Você vai ter que
parar de jogar paciência e trabalhar mais.
John Trahan: Quem é você mesmo?
Acionista: Eu já disse Kobayashi. Sou "aquele que não é chinês”, lembra?
John Trahan: Não. Quem é você em relação a mim? Por quê
está me ligando?
Acionista: Estou ligando porquê sou seu chefe. Eu
possuo a companhia em que você está trabalhando no meu plano de aposentadoria,
e não estou muito satisfeito com a forma que as coisas vem acontecendo. Seu
departamento está puxando para baixo toda a companhia e, de acordo com esta
avaliação, você é a segunda pessoa menos produtiva de todo departamento.
John Trahan: Peraí. Você não é o meu chefe. Eu preciso falar
antes com…
Acionista: Jim Abruzezze? Nem se dê ao trabalho. Eu
acabei de despedi-lo.
John Trahan: Você O QUE ?!?
Acionista: Era o único mais improdutivo que você. Eu pensei que você tivesse
recebido o recado.
OK. Acho que você já pegou o espírito da
coisa. Essa conversa nunca iria ocorrer, por uma série de razões. A Primeira, e
a mais importante, os acionistas não são credenciados para receber qualquer
informação que desejarem sobre as operações das companhias. Trahan
também não precisa se preocupar, pois a sua avaliação não vai aparecer nos
fóruns de discussão do Yahoo. Se as regras fossem diferentes, uma
concorrente poderia muito bem comprar ações de uma companhia farmacêutica e
depois pedir uma lista de todos os projetos nos quais ela estivesse envolvida.
É para isso que o conselho de diretores existe – para assegurar que os donos da
companhia estão bem servidos com a administração.
Ainda existe um absurdo nessa conversa
toda. É a idéia que um acionista poderia conhecer informações sobre a companhia
nesse nível de detalhe. É impossível. E isso nos leva a uma coisa que todos os
acionistas devem saber:
Mesmo que você estude uma companhia com
completa devoção, não terá a menor noção de 99,9% das coisas que estão
acontecendo nos bastidores. Você estará formando opiniões de investimento e
colocando seu dinheiro baseado numa minúscula fração de conhecimento daquela
companhia. Isso não é também uma coisa que cresça de acordo com a quantidade de
companhias que você possui.
Quando compramos uma ação, fazemos isso
baseados numa pequena pista das evidências do que realmente estará acontecendo
nos bastidores da companhia.
Isso te deixa nervoso?
Bem, não precisa ficar, porque a maioria
das informações que você não sabe sobre uma companhia são coisas que não iriam
ajudar mesmo a analisá-la numa primeira vista. Nem todas as informações são
criadas da mesma forma. Você não precisa saber muitas das
coisas que estão ocorrendo. Mas, por outro lado, precisa saber as mais
importantes. Conclusão: o importante é conhecido e o que não é importante é
desconhecido. Muito bonito só que se você se ater a essas duas coisas nunca
conseguirá ficar rico investindo. Pode parecer que chegamos num impasse, mas
estamos longe disso. Existe uma grande distância entre as “coisas que todo
mundo sabe” para aquelas que “ninguém se interessa”.
Escondido, mas mesmo assim, importante.
Isso é investir: encontrar as coisas que são importantes, mas ainda não completamente apreciadas. Ou, se você está pensando em vender alguma coisa no curto-prazo: o que é importante e está sobreavaliado.
Vou dar um exemplo da minha pesquisa no Motley Fool Hidden
Gems. Eu notei que a companhia de
software de cassinos virtuais CryptoLogic (Nasdaq:
CRYP) estava sofrendo com lucros anêmicos numa época em que cassinos
virtuais (em especial o poker online) estava disparando.
O ponto “óbvio” sugeria que a CryptoLogic
estava apanhando com a concorrência, regulação, incompetência, ou outra coisa
qualquer.
Até que percebi que...
Os fatos não eram tão óbvios assim, eles
não estavam nos números, nem na descrição que a companhia fazia de si mesma. O
que não me disseram era que a companhia tinha uma faixa pregada no peito onde
estava escrito: “vencedora”. Veja você, a CryptoLogic
tinha reduzido o número de clientes nos seus sites pela metade - ela queria se especializar em cassinos de alto lucro
e de alta qualidade que operavam em mercados altamente regulados. Além disso,
existe uma forte legislação nos Estados Unidos (que, por enquanto, me parece
eterna) e a CryptoLogic fez uma opção ativa em manter seu
marketing bem longe dos EUA, embora a parcela poderosa do Mercado esteja aqui.
O custo pra crescer no curto-prazo é alto, claro. Porém, os benefícios de
longo-prazo de seguir nessa direção – sem ter que se importar com o Congresso, com
perigos da perda da reputação e de ter que explicar a sua
relação com um site
de poker suspeito são substanciais.
Assim, para os assinantes da Hidden Gems, esta
aposta em particular se pagou. Eu a encontrei me focando no meio termo: Coisas
que os investidores necessariamente não conhecem, mas deveriam.
Existe um grande histórico de
investidores fazendo exatamente isso. O autor do livro You Can Be a Stock Market Genius
e também administrador de fundos de hedge Joel Greenblatt transformou cada dólar investido na sua firma em
mais de $50 (certamente mais, nos dias de hoje) simplesmente se concentrando em
coisas que não estavam claramente aparentes. Ele “arrebentou” no mercado ao
descobrir que o Host Marriott (NYSE: HMT) tinha os
mesmos valores ocultos que o Marriott International (NYSE: MAR), e fez
isso lendo apenas os demonstrativos e depois pensando se o mercado estaria
avaliando o Host apropriadamente.
Se isso funcionou? Funcionou bem, muito
bem.
Existe isso em você?
Esse é o moral da história: O segredo em
investimentos é saber separar aquilo que é importante daquilo que não é, e
depois verificar se as coisas que são importantes estão avaliadas corretamente.
Qualquer um pode
fazer. Poucos fazem.
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