Você precisa conhecer o ROA e o ROE

 

Fonte: http://www.fool.com/Specials/2001/sp010828.htm

 

Parte -1

(ROA) Retornos sobre Ativos (Return on Assets) e (ROE) Retorno sobre o Patrimônio Líquido (Return on Equity), são conceitos aparentemente similares, mas suas diferenças nos mostram um raio-X do negócio. Nesse artigo, fácil de digerir e bastante simplificado, nós pretendemos desmistificar o conceito de alavancagem financeira, a principal causa das diferenças entre o ROE e o ROA. Um bom conhecimento desse conceito básico criará as condições necessárias para o entendimento de detalhes que podem auxiliá-lo a se tornar um investidor melhor.

Por Paul Commins

Tradução de SER-

28 de agosto de 2001.

Mensurar os atributos que levam um negócio ao sucesso sempre foi uma aventura, embora não sejam, normalmente, uma barreira intransponível para compreendermos as companhias negociadas publicamente. Você procura por números chave nos demonstrativos financeiros, introduz em fórmulas, e obtêm, do outro lado, os resultados. O que é difícil para a maioria de nós é escolher quais fórmulas devemos empregar em um determinado cenário e compreender que resultados elas irão realmente nos fornecer.

Nessa discussão nós destacaremos duas medidas similares: Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) e Retorno sobre Ativos (ROA). De uma forma geral, ambos são índices que medem diretamente a lucratividade da companhia em relação ao investimento feito para gerar esses lucros. É nisso que o ROE e o ROA são parecidos. O macete, e a parte mais interessante, é mergulhar fundo e descobrir que diferenças existem por trás desses dois conceitos.

Para entender realmente as diferenças entre o ROE e o ROA, você tem que se sentir muito à vontade com um conceito básico: alavancagem financeira. Eu, particularmente, briguei por muito tempo com o conceito de alavancagem, e conseqüentemente, com as diferenças entre ROE e ROA. Deu-me “o estalo” quando comecei a raciocinar melhor em cima de uma coisa bem simples – A fórmula básica da contabilidade.

De volta para o começo:

A fórmula básica da contabilidade é a seguinte:

Se você não compreende bem essa relação, talvez a forma mais fácil seja fazer uma correlação com a compra da casa própria. Vamos imaginar que o preço de mercado da minha casa seja de $100.000 e que a minha dívida com o sistema financeiro seja de $75.000. Então:

Ou

Agora, com base nessa relação contábil básica, vamos fazer algumas manipulações algébricas:

Continuando com o nosso exemplo da casa própria, isto se traduz em:

Ou

Dê uma boa olhada nessas duas últimas equações antes de passar adiante. Pode parecer meio engraçado a primeira vista, mas, se você se detiver por uns minutos irá encontrar um conceito bem familiar. Na linguagem do dia-a-dia sempre ouvimos:

Mas, as aparências enganam, esta relação contém uma grande diferença que veremos posteriormente. Por agora, é tudo que precisamos para entender as raízes das diferenças entre o ROA e o ROE.

Desbravando a alavancagem financeira:

 
Com o básico nas mãos, vamos deixar o débito da cassa própria para trás e mergulhar em um exemplo empresarial. Vamos supor que a ScootCo (Ticker: OUCH) seja uma tradicional fabricante de lambretas para crianças de baixo crescimento. Seus maiores ativos são as instalações aonde as lambretas são montadas e sua marca. Esses dois ativos juntos poderiam ser vendidos por (têm o valor de mercado de) $100.000. E, por fim, vamos assumir que a ScootCo não possua qualquer dívida de longo prazo.  

Poderíamos obter simplificadamente a posição financeira da firma com o rearranjo da fórmula básica da contabilidade, conforme descrito abaixo:

Ativos = Patrimônio Líquido + Passivo

Ou

Em outras palavras: se não existirem dívidas, o Patrimônio Líquido, e o total de Ativos da companhia serão iguais e terão o mesmo valor. Dessa observação segue que o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) e o Retorno sobre Ativos (ROA) devem ter, também, o mesmo valor (o lucro é exatamente o mesmo, e o Patrimônio Líquido e os Ativos Totais são iguais).  Se nós ignorarmos por enquanto as minúcias do capital de giro, poderíamos dizer que quando “não houverem dívidas” o ROE = ROA.

Vamos então acrescentar um pouco de dívidas em nosso exemplo para tornar as coisas mais interessantes. Imagine que a demanda por lambretas para crianças explodisse de uma hora para outra, presenteando a ScootCo com uma oportunidade única para efetuar uma expansão no seu negócio. Aproveitando a oportunidade, os diretores da  ScootCo decidiram aumentar a sua capacidade produtiva em 50%. Os executivos da ScootCo foram até seu banqueiro conhecido para pedir um empréstimo de $50.000 para expandir as instalações. E, no exato momento que o cheque desse empréstimo chegou às mãos dos diretores, poderíamos atualizar nossa fórmula conforme abaixo:

Ativos = Patrimônio Líquido + Passivo

Ou

Compare essa fórmula com a outra, acima desta e, mais uma vez, observe atentamente. A comparação irá levá-lo diretamente ao conceito que existe por trás de alavancagem financeira:

Com este exemplo nas mãos, o conceito de “alavancagem” deve ter ficado bem claro. Empréstimos aumentam os ativos existentes em uma empresa sem necessitar qualquer investimento extra por parte dos proprietários. Parece ótimo, não? Mas será que realmente é?

Juntando tudo

Vamos continuar com nosso exemplo empresarial, vamos usar ambos o ROE e ROA para medir o desempenho da ScootCo um ano após a  expansão de $50.000 . Vamos assumir que o aumento da produção resultou num aumento de 50% nos lucros. Para manter as coisas o mais simples possível, vamos ignorar os benefícios fiscais resultantes do pagamento de juros sobre os empréstimos.

Antes da Expansão

Após a Expansão

O que isso quer dizer? Bom, pela ótica do ROA, os executivos da scooter erraram ao expandir as instalações, pois eles diminuíram em 2% seu retorno no investimento, reduzindo-o de 10% para 8%.(embora o lucro tenha sido aumentado em 20%). Por outro lado, de acordo com o ROE, eles fizeram a coisa certa, aumentando o retorno em 2%, totalizado agora em 12%. E agora, qual é a interpretação correta?

Como qualquer resposta que faz sentido, essa também é: ”depende”. Pense no ROA como o motor do negócio. O ROE é o que acontece quando você alavanca esse motor, tomando empréstimos.  Se você tem um bom motor nas suas mãos (que produz um retorno positivo sobre ativos), tomar empréstimos irá aumentar o retorno do acionista.  Como nós vimos nesse exemplo, o empréstimo (passivo) nem tem que aumentar a performance do motor do negócio (ROA) para aumentar o retorno do acionista (ROE). O que ele não pode fazer é degradar muito esse motor.

Por outro lado, se esse motor não for bom, tomar um empréstimo apenas irá aumentar as perdas dos acionistas, porquê, mesmo que o ROA diminua, a companhia continuará a fazer pagamento de juros sobre esse empréstimo tomado para comprar ativos. Este ciclo vicioso poderá ser revertido quando uma queda do “motor ROA” for apenas temporária, como normalmente ocorre quando a economia como um todo desacelera.

Então a resposta é: olhe para ambos. Se o ROA for bom e as dívidas estiverem sobre controle, o aumento do ROE é um sinal de boa administração.  Por outro lado, se o ROA está diminuindo, ou a companhia não parecer estar com boa estrutura financeira para superar períodos turbulentos, o aumento do ROE poderá ser apenas uma ilusão temporária - um prenúncio de problemas mais sérios. 

Você precisa conhecer o ROA e o ROE

Parte 2

Por Paul Commins

28 de Augusto de  2001

A diferença entre ter e pegar emprestado.

Quando nós estávamos falando sobre a compra da casa própria anteriormente, nós incluímos a seguinte equação:

Minha Casa = Meu Patrimônio + a Dívida do Banco.

Colocando isso de outra maneira:

Mas existe uma distinção nessa afirmativa que embute um erro bastante comum: a diferença existente entre possuir um patrimônio e possuir uma dívida.

Olha o que acontece: se você contrai uma dívida para comprar uma casa, você é o dono da casa, ponto final. Ela é toda sua. O fato de você ser dono de uma propriedade trás embutida uma possibilidade retorno a um determinado risco. Se a sua casa valorizar-se, toda a apreciação é sua. O banco não tem nada a ver com isso. Por outro lado, se a sua casa cair em valor, a perda será somente sua. O banco não irá reduzir sua dívida de um montante equivalente a sua perda.

O que o banco possui é um crédito, cujo colateral é a casa. A diferença não está apenas na semântica. Para tornar isso o mais claro possível, vamos trazer esse caso para o mundo das finanças corporativas.

Possuir uma casa é parecido com possuir ações de uma empresa. Da mesma forma que no mercado acionário, os imóveis tendem a se valorizar no longo-prazo, mas não há nenhuma garantia que uma casa (ou um bairro) vá se apreciar em valor. Analogamente, o mercado no curto-prazo podem também ser bastante volátil. Além disso, o financiamento da casa própria é o equivalente a comprar uma casa na margem, um vetor para ampliar seus ganhos em épocas boas (em que você faz dinheiro em cima do dinheiro do banco) ou ampliar as suas perdas em períodos ruins (em que você perde o dinheiro do banco em cima do seu).

O outro lado da moeda - sob a perspectiva do banco – a sua dívida se comporta como um título imobiliário de longo-prazo. Ele retorna um pagamento fixo e regular que é independente do valor da sua casa no mercado imobiliário, e que termina quando terminar a sua dívida, ela cessa, sem qualquer implicação de posse.

(Porém, se você começar a não efetuar pagamentos regularmente, o banco poderá tomar posse da sua casa para proteger o investimento dele. O mesmo é válido no mundo corporativo. Quando é declarada a falência de uma empresa, os proprietários de títulos e debêntures recebem os primeiros pagamentos sobre a venda dos ativos da empresa. Muito comumente os proprietários (acionistas) acabam não recebendo nada).

Mas porquê descer a esse nível de detalhe? O que isso tem a ver com ROE x ROA? Bom, eu não posso falar por todo mundo, mas um bom entendimento dessa distinção - entre possuir um patrimônio e possuir uma dívida – aumentou muito a minha compreensão sobre a fórmula básica da contabilidade. Ela tornou-se cristalina para mim, demonstrando porquê esta fórmula é tão importante. E meu conhecimento sobre balanços patrimoniais também aumentou, e a diferença entre ROE e ROA ficou, cada vez, mais clara.

E o que falar sobre o ROIC?

Retorno sobre o Capital Investido - Return on Invested Capital (ROIC) é um tópico mais complexo, além do que nos propomos a cobrir aqui. Nós podemos sublinhar dois pontos relevantes, que brotam dessa comparação, entre ROE e ROA:

1.      Como vimos em nossos exemplos, às dívidas são "o conector" que determina se um Patrimônio Líquido vai diferir ou não dos ativos, e de quanto. O Capital Investido não ignora as dívidas como o Retorno sobre o Patrimônio Líquido faz, mas também não inclui os resultados de todas as dívidas da mesma forma como faz o retorno sobre os ativos. Dessa forma, quando existe um passivo, o capital investido vai ficar em algum lugar entre os Ativos e o Patrimônio Liquido. O conceito de ”conector” de dívidas passa por cima das complexidades do ROIC no numerador (a parte do retorno), mas fornece uma ótimo resultado para o denominador – o capital investido.
 

2.      O ROIC é um processo mais complexo, que separa o “motor do negócio” do custo do capital investido para construir aquele mesmo negócio. Usualmente, os pagamentos de juros sobre as dívidas são retirados do cálculo do lucro líquido para se conseguir uma melhor leitura do “motor do negócio”. O valor desse motor é então comparado a quanto a companhia está gastando para colocar suas mãos sobre o capital necessário para tocar o negócio - uma combinação simples entre a taxa de juros pagas sobre empréstimos e o famigerado custo do Patrimônio Líquido. 

Para onde ir agora?

Com esta visão simples na sua mala, existem dois passos a seguir bastante úteis que você estará agora preparado para fazer:

1. Ler sobre a Equação de Dupont, que divide o Retorno sobre o Patrimônio Líquido em várias partes bastante reveladoras.

2. Tomar um ar e mergulhar fundo nos detalhes do  Retorno Sobre o Capital Investido.

Apesar dos números, Paul Commins pensa que os executivos da OUCH estão fazendo um excelente negócio. Caso ele tenha emitido algumas opiniões sobre companhias de verdade nesse artigo, você pode verificar em seu perfil para ver se ele possui alguma dessas ações, de acordo com a política do Fool.

 

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