Diversificação: uma outra
maneira de lidar com a incerteza e reduzir o risco.
Por Peter I. Hupalo
Tradução e adaptação de SER-
Extraído
do livro: Tornando-se um investidor -
Construindo riqueza
investindo
em ações, títulos, e fundos mútuos - Capítulo 7
Ouve-se dizer que diversificar é uma coisa sensata.
A razão é muito simples: nós cometemos erros. Você pode gostar muito de duas
ações, mas nunca saberá ao certo qual delas será o melhor investimento. Erros
de avaliação acontecem. Pode ser que justamente aquela companhia que você achava
que estava barata não estivesse tão barata assim. Pode ter faltado alguma coisa
na hora de fazer a avaliação.
Outro motivo para empregarmos a diversificação é que
o futuro trás mudanças. A empresa que você escolheu pode estar passando por
momentos difíceis e o preço do papel acabar caindo rapidamente. E essa pode não
ser apenas uma desvalorização temporária que você pode superar tranqüilamente.
Lidar com flutuações temporárias da bolsa, não é um grande problema para o
investidor inteligente. Mas, lidar com mudanças no valor da companhia das quais
você não possa esperar uma recuperação, é outra coisa. Pode ser que ocorram falhas
na administração da companhia ou que ela contraia uma dívida enorme. Nesses
casos, se você possuir seus papéis certamente acabará afetado. Só que a forma
com que isso afetará você será bem pior se essa for à única companhia que existir
na sua carteira! Porém, se a companhia que estiver indo mal for apenas uma das
diversas companhias que você possui, as conseqüências serão minimizadas sensivelmente.
Eu não sou adepto de regras rígidas e inflexíveis para diversificação. Existem
algumas pessoas que lhe dirão que você deve possui de dez a vinte ações na
carteira. Ou, que você não deve alocar mais de 5% em
um único papel. Na verdade, isso nunca fez muito sentido para mim. São regras
muito rígidas. Mas nós aconselhamos que você saiba sempre muito bem como está sua
carteira em termos de diversificação. Se eu tivesse que sugerir uma regra, essa
seria possuir no mínimo dez ou quinze ações. Isto está de acordo com o que
pensa Warren Buffet. Mas ainda
acho que deveríamos fazer algumas considerações em cima desse critério.
Se estivermos pensando em montar uma carteira com 10
ações, distribuídas em partes iguais, cada ação corresponderia a 10% do total.
Em outras palavras, isso quer dizer que, se uma ação deixasse de existir nós
perderíamos 10% da carteira. Por outro lado, o máximo que poderíamos esperar de
retorno de uma carteira como essas ficaria também em torno de 10%. Se
perdêssemos uma ação, as nove restantes teriam que
render em conjunto 10%, para quase zerarmos o prejuízo. Vamos supor nesse
exemplo que a nossa carteira valesse originalmente $1.000. A ação que chegou a
zero ocasionou uma perda de $100. Vamos admitir que conseguíssemos um
rendimento de 10% sobre os $900 restantes, ou seja, $90. No final, acabaríamos
com uma perda de $10, o que equivale a apenas 1% do
valor inicial. Isto não é um mau resultado se levarmos em consideração que
uma ação de nossa carteira deixou de existir e corresponde a uma perda
permanente. Note bem, se perdêssemos um dos dez papéis da carteira, ainda
sobreviveríamos no final. Ressalto que não estou preocupado aqui com
flutuações de preço de mercado de natureza temporária. Estou preocupado com
perdas permanentes, como seria o caso de uma falência.
A chance de sofrer uma perda como essas em uma
carteira conservadora, escolhida criteriosamente, são bem pequenas. Se suas
ações foram escolhidas entre companhias como a 3M, a Merck
e Northem States Power
(agora Xcel Energy), é bem
pouco provável que uma completa falência venha a ocorrer. Nesse caso, dez ações
lhe darão uma diversificação muito boa. Você pode até possuir somente oito
ações e, ainda assim, estar bem seguro. Agora, se você possui companhias em
recuperação (“turnarounds”) na sua carteira, empresas
que estão na beira do precipício, perder uma companhia em dez não é uma coisa
muito difícil.
O nível de diversificação que você precisa não depende apenas da sua tolerância
ao risco, mas, também, da estabilidade das companhias. Uma companhia como a 3M
com alguns milhares de produtos na praça é certamente mais estável que uma
companhia que está começando agora com apenas um produto. Seria necessária uma
verdadeira tragédia na 3M para que deixasse de existir.
Outro aspecto da diversificação normalmente
esquecido é que você poderá estar avaliando duas companhias similares no que
diz respeito a seus atributos de crescimento, e não conseguir chegar à conclusão
de qual delas é o melhor investimento. Se você investir em apenas uma, poderá
estar perdendo a chance de investir em uma empresa espetacular. Por exemplo, se
você decidiu investir em 10 companhias em recuperação em 1993 e deixou passar a
Dell Computers, que seria a
décima-primeira companhia da sua carteira, somente
porquê quebraria a sua regra de “investir exatamente em dez companhias”, teria
cometido um grande erro. Da mesma forma, seria burrice vender uma das dez
companhias que você já possui, e que considera excelente companhia, somente
para a Dell “caber dentro da carteira”. Alguns
grandes investidores como Peter Lynch são conhecidos
por possuírem um grande numero de companhias. Não há nada de errado nisso.
Provavelmente, você não vai querer ter mais de 20 ou
30 ações na carteira. Se você tiver 60 ações e não conseguir lembrar-se porquê
comprou qualquer uma delas ou, até mesmo, quais companhias você possui, estará muito
provavelmente fazendo uma má administração de carteira. Se continuar assim
acabará, invariavelmente, cometendo novos erros e decisões erradas. Possuir
várias empresas na carteira poderia induzir você a pensar coisas do tipo: “- Se
eu tenho tantas ações na carteira, como é que eu posso estar cometendo um
erro?” Isso pode até ser verdade, mas não se acomode com essa situação e nem
use isso como desculpa para fazer um investimento que você ache que tem grande
chance de dar errado, ou comprar uma ação sem fazer a sua avaliação correta,
deixando de estudar a companhia antes de investir.
Lembre-se disso principalmente quando estiver
comprando uma companhia menor e mais dinâmica aonde as condições se modificam
muito mais rapidamente. Isso também vale para companhias em recuperação (“turnarounds”). Se você começar a negligenciar os maiores
acontecimentos dentro das suas pequenas companhias, estará, muito
provavelmente, tendo mais ações do que deveria.
Mesmo que você não passe por qualquer desastre nas
suas companhias, deve sempre se comportar como se estivesse comprando apenas
uma companhia e colocando todo o seu dinheiro nela no momento da escolha. Ao
invés de começar a sair comprando por aí, você deveria se perguntar: “-
existiria alguma companhia melhor na qual eu deveria estar investindo?”
Pensando assim, você certamente fará mais pesquisas e procurará por
oportunidades em um maior número de companhias. Você deve agir como um
consumidor que compra mercadorias comparando qualidade e preço. Você poderá
relaxar um pouco mais com as grandes companhias e não precisará se preocupar
tanto com variações mensais. Mas, esse não é o caso das companhias pequenas.
Em algumas ocasiões você poderá pegar mais pesado em
algumas companhias ou, como dizem alguns investidores, “encher a mala”. A situação
da Merck em 1994 me veio à cabeça agora. Eu me
sentiria bastante confortável colocando 25% da minha carteira naquele papel.
Era uma tremenda companhia, possuía grande estabilidade, excelente desconto,
tinha produtos patenteados, grandes margens e pertencia a uma grande indústria.
Mas essa era uma exceção. Muito poucas ações justificariam uma concentração
maior que 25%. Mas, algumas vezes, situações como essas podem vir a acontecer.
Faça você mesmo a avaliação. Nunca deixe outra pessoa convencê-lo de que a sua
posição é pouco inteligente. Se você sabe o que tem, é realmente necessário
pensar por si próprio.
Outra coisa que você vai ouvir bastante por aí é que
precisa se diversificar entre setores. Em outras palavras, seria bobagem
possuir 10 ações se elas estiverem todas dentro da mesma indústria como, por
exemplo, a farmacêutica. Existe bom senso nesse conselho. As companhias dentro
da mesma indústria costumam sofrer dos mesmos problemas. Por exemplo, se você
possuir dez ações dentro do setor de armamento e os armamentos virem a ser proibidos ou, se as dívidas nessas companhias crescerem
desesperadamente você acabaria sendo atingido. A mesma coisa vai acontecer se
você possuir dez ações dentro do setor de tabaco. Mas esta é uma situação
extrema em indústrias de alto risco que sofrem grandes influências políticas e
regulatórias. Você não vai querer possuir 10 indústrias do setor tecnológico na
sua carteira, porquê não vai querer ser 100% afetado pela rápida evolução
tecnológica.
O problema de ficar tão preocupado com a
diversificação entre setores é que, de vez em quando, industrias maravilhosas e
promissoras ficarão subavaliadas, criando excelentes
oportunidades de compra para alguns investidores inteligentes que aproveitarão
a ocasião para investir pesado. Este foi o caso das ações da indústria
farmacêutica em 1994. Antes disso, foram às ações de serviços financeiros e
bancos que entraram em promoção. Naquela mesma época houveram
ações de outros setores industriais, passando pela mesma situação, como foi o
caso das ações da Internet em 1999. - Não compre ações superavaliadas
somente para obter diversificação de “setores”!
As indústrias entram e saem de moda. Sempre me
pareceu que alguns dos melhores investidores de longo-prazo investem pesado
nessas ações quando seus setores ficam subavaliados.
Eles carregam suas carteiras com boas compras - e normalmente encontram suas
melhores oportunidades dentro de uma mesma indústria. Eles mantêm-se longe de indústrias
superavaliadas.
Se as ações dos fabricantes de computadores como a Dell Computers e Zeos estivessem agora nas alturas como estiveram em 1993,
seria muito perigoso comprar qualquer uma delas. Uma companhia sempre pode
cometer erros. Embora a Dell tenha conseguido voltar
com toda a força, a Zeos nunca conseguiu se reerguer
depois de cair. Mas, é muito pouco provável que toda indústria de computadores
terminasse na mesma situação. Dizer que você deveria possuir apenas uma empresa
de informática na sua carteira somente para manter a diversificação é muito
perigoso (significa obrigar que as outras nove ações fossem de outro setor).
Você certamente obteria uma diversificação melhor se possuísse
várias ações dentro da mesma indústria, desde que ela tivesse boas
perspectivas e que você tivesse comprado seus papéis a um bom preço.
Eu me lembro bem que em 1980 muitas ações de
fabricantes de automóveis caíram. A Chrysler foi o
melhor exemplo, mas, até mesmo a Ford caiu. Ouve muita preocupação de que toda
a indústria automobilística dos Estados Unidos não conseguisse mais ser
competitiva em relação aos fabricantes japoneses. Compare isso com o que aconteceu com a indústria farmacêutica na metade da década de 90,
aonde muitas ações do setor possuíam excelente qualidade. Mesmo que você
tivesse 25% de sua carteira investida na Merck
poderia tranqüilamente investir outros 25% da sua carteira em outra ação do
setor médico-farmacêutico. Muitas dessas companhias foram precificadas como se já estivessem reguladas. E estas
companhias não estavam passando por qualquer problema operacional. É
importante fazer a distinção entre companhias que estão apenas subavaliadas na bolsa daquelas indústrias que estão
passando por problemas operacionais.
Como um investidor inteligente, é obvio que você não
vai querer ter todas as ações da bolsa na carteira. Teoricamente, possuindo
todas as ações existentes na bolsa você obteria a melhor diversificação
possível. Mas qual o sentido de possuir uma ação extremamente sobreavaliada em uma carteira escolhida inteligentemente?
Qual é o problema de ter na carteira mais de uma empresa do setor farmacêutico
se elas tiverem sido escolhidas criteriosamente? Não seja um escravo da regras
de diversificação! Favoreça as empresa que você acredita que têm melhores
perspectivas e aproveite as oportunidades quando elas aparecerem. Apenas esteja
consciente dos fatores que afetam aquela indústria e use o seu próprio
julgamento.
A chave é entender o que a diversificação pode fazer
por você. O problema é que hoje em dia tudo é associado com o conceito de que
risco é medido pela volatilidade. Desde que Harry Markowitz criou a sua teoria das carteiras e o conceito de
diversificação, a associação entre risco e volatilidade do preço das ações tem
sido a base da teoria de investimentos. A maioria dos
investidores acredita que o objetivo da diversificação seja possuirmos
diferentes tipos de ações de modo que, quando as ações de algumas indústrias
saírem fora-de-moda, e seus preços caírem, o preço
das outras indústrias se manterão, ou talvez, se estiverem em um momento
favorável, subirão. Assim impediríamos que todas as ações de nossa carteira
caíssem ao mesmo tempo! Algumas ações subiriam compensando outras que tivessem
caído. Pelo menos esta é a visão convencional de que a diversificação
diminuiria a volatilidade da carteira.
O problema dessa abordagem é que acabamos obcecados
pela volatilidade. A verdade é que o mercado acionário como um todo é volátil
e, se você realmente necessita manter o seu patrimônio acima de algum valor
arbitrário qualquer, vamos dizer um milhão de dólares, não deveria estar
investido exclusivamente em ações. O mercado acionário poderá cair como um todo
e, certamente, a sua carteira irá acompanhar. Não importa se você tem dez,
vinte ou um milhão de ações na sua carteira. Nunca invista na bolsa o dinheiro
que vai precisar no curto-prazo. Nunca compre ações de empresas das quais você
não confie nas perspectivas de longo-prazo. Nunca conte com a possibilidade que
você vai conseguir passar adiante o papel daquela companhia que não está indo
muito bem por um preço razoável para um outro investidor “bonzinho”. Se você tiver isso na cabeça, então a
volatilidade de curto-prazo da bolsa não deve lhe causar preocupação.
Imagine que você comprou uma companhia espetacular
por $50 cuja sua estimativa de valor intrínseco seja por volta dos $100. De uma
hora para outra o preço da ação dessa companhia despenca para $25. Você
momentaneamente teria perdido dinheiro. Mas se você não precisa do dinheiro,
está confiante na sua avaliação, acredita que a avaliação que fez sobre aquela
companhia permanece a mesma, porquê diabos então você venderia? Nada mudou! -
Você deve estar preocupado com os resultados de longo-prazo do seu
investimento, não com a volatilidade de curto-prazo. Na verdade, uma indústria fora-de-moda é o local aonde devemos começar a procurar
comprar e não vender! É muito difícil acertar exatamente o fundo do poço de um
mercado de baixa! O objetivo de um investidor conservador de longo-prazo é
diversificar para proteger-se contra problemas no negócio das empresas, a falta
de crescimento, problemas operacionais e outros fatores adversos que podem
recair sobre uma determinada companhia (como, por exemplo, foi o caso da Three Mile Island),
etc. Esta sim deve ser a sua preocupação principal.
É verdade que algumas indústrias são mais arriscadas
que outras. Você não deve se carregar de papéis de um setor muito arriscado.
Mas, se a indústria na qual você estiver comprando estiver bem e ela tiver boas
perspectivas pela frente, não há motivo para que você desejar estar muito
diversificado entre setores. Não há motivo para temer possuir várias companhias
dentro de um mesmo setor. Da mesma forma que você, como investidor individual,
não precisa ter papéis de todos os setores, principalmente naqueles setores sobreavaliados, ou com pontos fracos como, por exemplo, o
têxtil.
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