fonte: http://www.fool.com/news/commentary/2003/commentary030828mfs.htm?source=mppromo
Pelo Grupo Motley Fool
28 de Agosto de 2003
Tradução e adaptação livre de SER-
Que Coisa Pequena é Essa Chamada Ação?
Regra N. º 1 – Quando compramos uma ação, estamos na realidade
comprando um negócio público (que não deixa de ser um negócio, é claro). Antes
de definirmos as quatro dimensões da análise fundamentalista, existem algumas
coisas que deveríamos conhecer primeiro. O nosso objetivo principal é avaliar
uma companhia negociada publicamente. Para nós, as palavras ações e negócio são
sinônimos. Não existe qualquer diferença entre a metodologia empregada para
avaliar a ação de uma empresa e a empresa como um todo. O nosso lema é:
“investir em um negócio como se fossemos os donos”.
Não
importa se estamos comprando toda empresa ou apenas algumas ações. Raciocinar
como se estivéssemos comprando o negócio todo requer o mesmo raciocínio e
disciplina necessários para fazer qualquer outro investimento. Se estivermos
realmente dispostos a comprar uma empresa, devemos ficar atentos ao preço
oferecido, a qualidade do negócio, saber se a área em que ela atua está dentro
do nosso círculo de competência e, certamente, por quanto tempo vamos querer ficar
com ela. Em suma, vamos querer saber tudo sobre o que chamamos das Quatro
Dimensões da Análise Fundamentalista: avaliação, qualidade, conhecimento
e tempo.
Avaliação: O Preço Pago Em Função da Receita
Gerada.
Regra Nº2: Quando compramos um
negócio, o preço pago deve ser proporcional ao caixa que esperamos que a
companhia produza no futuro em nosso benefício.
Regra Nº3: Contexto, contexto,
contexto. É muito importante entender o modelo econômico da companhia. Primeiro
em relação a si mesma, depois em relação a seus concorrentes e, por fim, em
relação ao ambiente econômico como um todo.
Regra Nº4: A avaliação é feita em
cima de retornos esperados no futuro.
Eu não consigo entender como
alguém pode querer estabelecer um critério puramente qualitativo para
compra de ações sem levar em conta o contexto do negócio. Devido
ao exercício de raciocínio lógico efetuado antes da decisão de compra, a
avaliação é provavelmente o parâmetro mais importante a se analisar antes de
decidirmos colocar dinheiro numa empresa. Além da satisfação pessoal de
possuirmos ações em diversas companhias, quando decidimos comprar ações de uma
determinada empresa é porquê acreditamos que o valor em dinheiro que ela vai
gerar no futuro valerá mais do que estaremos pagando por ela naquele
determinado momento.
A razão
da existência de qualquer negócio é a geração lucro para seus proprietários
através do emprego racional dos ativos colocados à disposição da empresa.
Depois que a empresa gerar o lucro, podemos decidir o que fazer com ele:
reinvestir, fazer aquisições, pagar dividendos, ou recomprar porções do próprio
negócio ou a parcela dos outros sócios dispostos a vender. O dinheiro futuro
que você acredita que a empresa irá conseguir gerar durante todo seu período de
operação transformados, sob premissas racionais, em dinheiro de hoje, é o valor
da empresa naquele momento. A especulação agressiva e algumas outras
adversidades poderão alterar o valor presumido do fluxo de caixa da empresa.
Mas, no final, o negócio vale mesmo é pela quantidade de grana que ele consegue
gerar com seus ativos, sejam eles tangíveis como uma fábrica ou, intangíveis
como uma marca.
Embora o método de avaliação dependa do tipo de companhia que se esteja
avaliando, o resultado final é um só: quanto maior a diferença entre o valor de
mercado e o valor intrínseco daquela companhia, maior será o retorno esperado
da ação. Relembramos mais uma vez que, o objetivo da avaliação é identificar
retornos futuros. Assim, quando superestimamos as premissas em nossas
avaliações, diminuiremos nossos retornos futuros esperados proporcionalmente.
Se você pagar muito por retornos futuros irá perder dinheiro ou terá que se
contentar com retornos medíocres até que a avaliação volte a se tornar atrativa
quando comparada com o valor intrínseco. Sob o ponto de vista racional, as
ações da empresa somente poderão aumentar de valor quando a diferença entre o
preço de mercado e o dinheiro que ela irá gerar no futuro for significativa.
Caso não haja diferença ou, se o preço das ações estiverem realmente
superestimados em relação ao lucro que será gerado pela empresa no futuro, não
poderá existir, sob premissas racionais, um aumento sustentável de preço das
ações, a não ser que você acredite que a irracionalidade do mercado irá
prevalecer por um longo tempo.
No final, quanto mais você paga
por uma ação, mais os seus retornos tenderão a convergir para os retornos
médios do mercado, ou cair abaixo dele, se você não apenas pagou caro, mas
também comprou um negócio ruim.
Qualidade: Uma Medida De Excelência
Regra n. º5: Porcarias baratas continuam
sendo porcarias.
Regra n. º 6: Grandes retornos vem da compra
de negócios de qualidade superior a preços razoáveis.
Regra n. º 7: Grandes retornos de alto risco
vem da aquisição de curto prazo de negócios de qualidade duvidosa a preços
elevados.
Muito do que se publica na mídia
tem a ver com a avaliação de ações. O índice P/L e as
taxas de crescimento aparecem rotineiramente nos cadernos de economia dos
jornais. Mas, muito pouca tinta é gasta no quesito qualidade da empresa. Isto
deve ser porquê “qualidade” é uma característica muito mais esotérica e
nebulosa do que a avaliação. Ou, talvez até por ignorância. Na avaliação,
tudo o que você precisa conhecer são números e saber usar uma
calculadora. Agora, determinar a
verdadeira qualidade de uma empresa vai muito além da simples matemática.
Requer que você entenda o que é o negócio e como ele funciona dentro de um
contexto capitalista.
Não adianta comprar um
negócio somente porquê ele está barato. É importante que ele tenha qualidade. Normalmente,
os investidores compram ações porquê acreditam que elas estão baratas em
relação a seus índice P/L ou P/Vendas e acabam descobrindo que os preços estão
baratos porquê os lucros estão em declínio e as vendas vem diminuindo. Embora
vários estudos indiquem que você possa superar o mercado comprando uma cesta
diversificada de ações fora-de-moda e com baixas
avaliações (a lá Ben
Grahan), os retornos gigantescos como o do Rei
dos Investidores, Warren Buffet, vem mesmo da
aquisição de negócios de alta qualidade a preços módicos. Se você fumar os
últimos tragos de uma “guimba” de cigarro achados na
rua poderá ter a sensação que a sarjeta é um excelente negócio, mas, na
verdade, comprar uma caixa de cigarros “extra” por um preço moderado não será
apenas melhor para sua saúde, ela criará muito mais em termos de valor para
você.
A avaliação e a qualidade
são complementares. Faça os cálculos pelo lado da avaliação e verifique se uma
ação está super, moderadamente, ou sub-avaliada. A
matemática no lado da qualidade irá mostrar o diferencial existente na
austeridade da administração, no valor da marca e no domínio do mercado,
indicando se a mesma é grande, pequeno ou moderado. Depois compare os dois
resultados com olho clínico, buscando a aquisição de uma companhia que possua
baixa avaliação (comparada com seu valor intrínseco) e que possua uma alta ou,
pelo menos, moderada qualidade. Ou, se você gosta de um pouquinho mais de
risco, companhias mediamente avaliadas, mas com excelente qualidade. Fuja de
companhias de baixa qualidade superavaliadas.
Profundidade
De Conhecimento: O Círculo Da Competência.
Regra N. º8: Compre aquilo que você realmente
entende.
Regra N. º9:
Não compre aquilo que você entende apenas superficialmente ou tudo àquilo que
aparece na sua frente. Você irá, quase que certamente, perder dinheiro e
conseguir um retorno abaixo do mercado.
A
avaliação e a qualidade são a largura e a profundidade do mundo do
investimento. Estas duas medidas indicam, quais serão as dimensões finais do
seu investimento. Assim como qualquer outra coisa na vida, nossa habilidade
para empregar ferramentas corretamente tem suas limitações. De fato, nossa
habilidade para avaliar ou estimar qualidade é bastante limitada, mesmo com
toda a precisão e segurança que os números aparentem oferecer. Sempre restará a
alternativa de mantermos uma taxa extra de “margem de segurança” em uma
aquisição, por precaução, sendo conservadores em nossas premissas e avaliações,
não superestimando as qualidades da empresa de maneira a não amplificarmos
nossos erros. Será interessante empregar a outra dimensão do processo de
investimento: A profundidade do
conhecimento, que é ainda mais vital para evitarmos erros.
A profundidade de conhecimento é
um conceito muito importante, sendo muitas vezes mal interpretado. É de
importância fundamental saber quanto se conhece realmente sobre a empresa sob o
ponto de vista econômico – Isto significa a maneira como ela interage com seus
clientes, fornecedores, distribuidores e investidores, no seu dia-a-dia. A
máxima: “Compre o que você conhece” não é suficiente – Ela deveria ser: “Compre
o que você compreende”. Heráclito descreveu isto de forma melhor: “Muitos
ensinamentos e poucas compreensões”. É muito raro um investidor compreender
exatamente o que uma empresa realmente faz. O mais comum é o investidor
limitar-se a um conhecimento superficial de quais são os produtos da empresa e
como eles poderiam ser excitantes, ou possuir uma familiaridade aparente com o
produto e um suposto conhecimento do modelo econômico da companhia.
Embora o conhecimento seja
importante, ele não deve ser separado do contexto da avaliação e da qualidade
do negócio. O conhecimento superficial da empresa sem a real compreensão de
quanto dinheiro a companhia irá gerar no futuro poderá ser um cenário de
investimento tão catastrófico quanto olhar apenas para a avaliação da empresa e
ignorar seu modelo econômico. É a
profundidade de conhecimento combinada com a baixa avaliação e alta qualidade,
que constroem investimentos acima da média. Qualquer desvio dessas três
dimensões resultará num grande risco de perda de dinheiro. E não acabou ainda.
Se você conseguir combinar a esse modelo tridimensional de investimentos um ambiente
psicológico apropriado e adicionar ainda o “conceito do tempo”, você estará equipado para a efetuar uma análise
de ações muito acima da média.
Tempo: O
Árbitro Máximo dos Retornos.
Regra n. º 10: Compare retornos passados e futuros numa unidade de
medida consistente.
Regra n. º 11: O tempo corrige muito, mas não todos os erros de
avaliação.
Concentrando-se na avaliação,
qualidade e profundidade de conhecimento, o investidor terá uma grande
probabilidade de selecionar companhias candidatas a ter uma apreciação de valor
acima da média. Além destes fatores, seu lucro dependerá de mais um: o tempo
que o investidor manterá esses papéis em seu poder. A diferença entre um bom
investimento e um investimento espetacular está no tempo que uma mudança de
preço demora a ocorrer. O sucesso no campo do investimento depende da
influência que o fator tempo exerce em determinados retornos e na capacidade
estimar, com alguma precisão, que tipo de retorno deve-se conseguir de um papel
com essa espera.
Vamos supor que você estudou a
companhia XYZ, e fez o seu dever de casa corretamente. Depois de algum tempo,
você descobre, para seu deleite, que as ações da XYZ dobraram de preço. Uma
grande goleada não? Não necessariamente. Você deve tomar cuidado para manter a
mesma unidade para todas as variáveis da equação. Se não vai encentrar
resultados bizarros, da mesma forma que na física. Pense que todos os retornos
de investimento devem possuir a mesma unidade de medida – o retorno anualizado – É importante efetuar decisões corretas
sobre qual investimento foi e qual investimento será o mais atrativo. Em nosso
exemplo, o retorno de 100% é espetacular quando efetuado em um ano. Se o
retorno for obtido em 10 anos resultarão em módicos 7,1%, anualizados
durante todo o período.
Quando discutimos retornos, além da necessidade de se empregar uma unidade
consistente de medida, é importante também saber se o tempo exercerá um efeito
salutar no processo de investimento. Você verá que o tempo corrige alguns
erros de investimento relativos a avaliação. Mas o
tempo certamente não irá corrigir as conseqüências da perda de paciência por
parte do investidor. O tempo com que você permanece comprado com a ação
diminui o risco de ter comprado a ação na hora errada. Isto quer dizer em
português bem claro: Se você comprou uma grande companhia e pagou por ela um
preço superior ao que deveria, com o passar dos anos seu erro será superado
pelo crescimento dos lucros compostos conseguidos pela companhia. É por isto
que focar em qualidade durante o processo de investimento é tão crítico – Se
você compra qualidade o tempo é seu amigo. Se você compra uma porcaria, o tempo
não ajudará em nada.
Quanto mais
você concentrar-se numa visão de longo-prazo, em comprar empresas de
qualidade adquiridas a um preço baixo e num ambiente que você conhece bastante,
maior será a sua probabilidade de contar aos amigos que aquela ação que você
comprou por alguns centavos, custa agora $60. Embora o público concentre muita
atenção em ações que tiveram seus preços duplicados ou triplicados em um ano,
são nas ações que sobem de 10 a 20 vezes em uma década o lugar onde se consegue
riqueza. Seguindo as 11 regras descritas nesta série, acredito que os
investidores facilitarão o trabalho dos deuses da fortuna, fazendo com que eles
trabalharem a seu favor.