Motley Fool
Segunda, 29 de setembro
Por Matt Richey
-Traduzido e adaptado por SER-
"Nenhuma
filosofia de investimento, a não ser que seja a cópia exata das operações de
outra pessoa, se comporta da mesma forma em dois dias do ano. No meu caso em
particular, ela se aperfeiçoa continuamente, sendo o resultado do que eu
acredito ser um raciocínio lógico, e também pela observação dos erros e acertos
de outras pessoas, e pelo pior método: aprendendo com meus próprios
erros".
Desenvolvendo Uma
Filosofia de investimento
|
Fazendo uma retrospectiva do
aperfeiçoamento da minha carreira como investidor desde 1995, seis lições me
parecem importantes:
1. Investimento
eficiente inicia pelo conhecimento do negócio.
Eu aprendo esta lição um pouco
mais a cada dia. Quanto melhor você conhece o negócio de uma companhia, melhor
preparado você estará para fazer uma decisão sobre a compra ou venda da ação.
Quando eu comecei a investir, esta lição era ainda mais crucial. No início, foi
importante entender que uma ação não era somente um preço passando rapidamente
na tela aleatoriamente, e sim uma participação em um negócio vivo e dinâmico.
Confesso que quando iniciei na
bolsa, assinava um serviço de informações por e-mail. Eu não conhecia nada
melhor e, o melhor de tudo, ele prometia enriquecimento rápido! Felizmente, não comprei nenhum papel
indicado naquele troço e, em poucos meses comecei a ler livros como Beating
the Street de Peter Lynch e
The
Warren Buffett Way de Robert Hagstrom, que me convenceram que a única forma
de investimento é a focada no negócio. Todo o resto é pura jogatina.
2. Sua experiência
como consumidor é apenas um ponto de partida para uma oportunidade de
investimento em ações.
Dada a importância da lição N.
1, as candidatas naturais a investimento, são aquelas companhias que fazem
parte do nosso dia-a-dia como consumidores. Só que o auxílio da sua
experiência como consumidor termina por aí. Eu só compreendi isto após a compra
da minha primeira ação, a AOL (agora AOL Time Warner) em 1996.
O papel da AOL desabou de $70
para $30. Como um entusiasta da mídia on-line, vi uma grande oportunidade na
queda da AOL. Era fácil perceber que o negócio AOL era revolucionário e,
também, a forma mais fácil de se conectar a internet. Como era de se esperar,
eu não conhecia nada sobre a saúde financeira ou valor da firma, e tinha menos
idéia ainda do valor de suas ações. Por sorte, meus instintos como consumidor
se mostraram suficientes para um ganho de 50% em março de 97, quando vendi meus
papéis. Foi, sem dúvida, um excelente ganho, mas, nada comparado ao que poderia
ter recebido se tivesse me sentado sobre os papéis e esperado.
Depois de quatro desdobramentos
de 2 para 1, que aconteceram desde aquela época, eu venderia as ações por um
equivalente a $2,81 nos dias de hoje. Se eu compreendesse realmente o negócio
por trás da AOL, poderia ter previsto que a companhia estava a caminho de gerar
um fluxo de caixa livre considerável em poucos anos. Se eu soubesse como
analisar o negócio e estimar o seu valor, teria ferramentas melhores para tomar
uma decisão. Devido a minha decisão ter sido efetuada única e exclusivamente
pelos meus conhecimentos de consumidor, posso me dar por satisfeito por ter
caído fora com algum lucro.
2. Avaliação
fora do contexto no negócio não vale nada.
Quando eu vendi minha posição na AOL, tinha consciência
que estava na hora de aprender alguma coisa sobre "esta tal de
avaliação". Eu não sabia exatamente era por onde começar. Em minhas primeiras tentativas, apliquei uma
velha regra que dizia que quando uma ação estava próxima de seu preço justo,
seu índice Preço/Lucro (P/L) estava próximo à taxa de crescimento do seu lucro
por ação. Por exemplo, se a taxa de crescimento de lucro por ação era de 20%,
então a ação deveria estar próxima de seu preço justo se o índice P/L fosse
20.Empregando esta lógica, descobri uma companhia chamada Micrion (não mais
listada), que parecia ser uma verdadeira pechincha.
O único problema foi que, ao levar em conta a avaliação, esqueci
da regra N. 1. - Eu não fazia a menor
idéia do que esta firma fazia, a não ser que tinha alguma coisa a ver com
semicondutores. Sem entrar em detalhes
sobre esta história, eu perdi rapidamente 40% de todo capital investido naquele
papel. Seria fácil evitar esta perda se eu tivesse gastado pelo menos 15
minutos olhando o balanço da empresa, que percebi mais tarde, estava muito
ruim. Assim aprendi, da pior maneira, uma regra de ouro: "Uma porcaria
barata é, ainda assim, uma porcaria".
3. Grana é
o que interessa.
Depois da minha experiência com
a com a Micrion, descobri que meu problema foi colocar o carro antes dos bois.
Antes de tentar avaliar um papel, é preciso identificar a qualidade do negócio.
A minha revanche veio no dia 4 de setembro de 1997 quando li o artigo de Tom Gardner "introdução ao fluxo de caixa" e descobri a profunda
importância do balanço e da disponibilidade de dinheiro em um negócio. Foi aí
que descobri uma lição vital: crescimento rápido de vendas e lucros no
demonstrativo de resultados tem pouca relevância, se não traduzir-se em um
aumento de dinheiro (e/ou diminuição das dívidas) no balanço.
Durante os anos seguintes
(1998-2000), aumentei meu conhecimento sobre a análise de negócios. Foi nesta
época que consegui o meu emprego fixo no Foll. Durante o meu trabalho, recebi
grande influência de Tom Gardner e comecei a entender que, os melhores negócios
do mundo possuem características semelhantes: são difíceis de entrar, possuem
um excelente histórico de vendas e um alto retorno do capital investido.Todas
estas qualidades traduzem-se na existência de um grande fluxo de caixa livre -
Provando que, afinal de contas, grana é o que interessa.
Mesmo com todo o conhecimento
adquirido neste período, a performance dos meus investimentos ainda era
sofrível, dando a entender que a minha filosofia de investimento ainda
permanecia fraca em alguma área chave.
4. A qualidade do negócio é de grande importância, mas
sozinha é insuficiente para escolha de um novo investimento.
Depois da baixa de 2000 ficou
claro para mim que na minha busca incessante pela qualidade nos negócio,
prestei pouca atenção à avaliação. Agora, ao invés de colocar o carro antes dos
bois, eu coloquei os bois no lugar certo, mas esqueci do carro! E isto foi um
grande erro.
Depois da queda da Nasdaq ficou
claro para mim que meu entusiasmo por papéis de alta qualidade, porém
superavaliados como o Yahoo! (Nasdaq: YHOO), estavam totalmente errados. A
lição foi clara e dolorosa: A qualidade do negócio é de grande importância, mas
não vale nada se o preço estiver muito alto.
5. Existe um preço em que quase todos os negócios passam a ser
um investimento interessante.
Em 2001, estas lições começaram
a amadurecer e influenciar diretamente o modo como eu olhava para as companhias
de alta qualidade. Como um exemplo posso citar a eBay (Nasdaq: EBAY ) indicada em maio de 2001, que examinei tanto
quanto ao negócio, como a avaliação. Também, em 2001, iniciei uma pesquisa com
companhias de baixa qualidade, mas que eram vendidas a preços
extraordinariamente baixos. Uma destas
companhias de valor oculto era a
ValueClick (Nasdaq: VCLK -), que eu recomendei inicialmente a $2.74 no
final de 2001 .Este é o tipo de
companhia que eu jamais teria recomendado como investimento alguns anos atrás.
Não apenas porquê ela era vendida a menos de $5, uma ação de centavos, mas
também pelos seus resultados, que apresentavam lucros inconstantes.
Na época da minha recomendação,
a ValueClick possuía em seu balanço um
total de $2.92 por ação de dinheiro em caixa. Enquanto isto, a ação era vendida
a $2.74 no mercado. O investidor estaria levando o negócio da ValueClick' de graça. Até mesmo um negócio medíocre vale mais do
que nada! Desde a época da minha recomendação, as ações da ValueClick tiveram seus preços aumentados
substancialmente.
Conclusão:
Obviamente a minha carreira como
investidor está apenas começando, e tenho a certeza hoje que outras lições
serão adicionadas a estas seis. Por hora, minha forma predileta de investimento
é aquela que procura por companhias em crescimento, de alta qualidade e vendidas
a preços razoáveis. Dito isto, em certas ocasiões excepcionais, posso
sacrificar a qualidade do negócio quando o preço for baixo o suficiente para
compensar. Afinal de contas, o que
resta é sempre o valor.
Matt Richey é analista senior do The Motley Fool. Na época
da publicação deste artigo ele não possuía nenhuma das companhias
mencionadas.
Traduzido e adaptado por SER-