Seis lições de investimento aprendidas

 

 

Motley Fool   

Segunda, 29 de setembro

 

Por Matt Richey 

-Traduzido e adaptado por SER-

 

"Nenhuma filosofia de investimento, a não ser que seja a cópia exata das operações de outra pessoa, se comporta da mesma forma em dois dias do ano. No meu caso em particular, ela se aperfeiçoa continuamente, sendo o resultado do que eu acredito ser um raciocínio lógico, e também pela observação dos erros e acertos de outras pessoas, e pelo pior método: aprendendo com meus próprios erros".   

                                                        

Philip Fisher,

Desenvolvendo Uma  Filosofia de investimento

                                                                    

 Fisher escreveu este texto em 1979, depois de acumular mais de 50 anos de experiência em investimentos. Eu fico satisfeito de constatar que fui um pouco mais precoce no desenvolvimento da minha própria filosofia, já que abri minha primeira conta em uma corretora há apenas sete anos. Embora sete anos não seja exatamente um longo tempo, eu acredito que quando dinheiro de verdade está em jogo, às lições tendem a ser absorvidas mais rapidamente, e raramente são esquecidas. 

 

Fazendo uma retrospectiva do aperfeiçoamento da minha carreira como investidor desde 1995, seis lições me parecem importantes:

 

1.     Investimento eficiente inicia pelo conhecimento do negócio. 

 

Eu aprendo esta lição um pouco mais a cada dia. Quanto melhor você conhece o negócio de uma companhia, melhor preparado você estará para fazer uma decisão sobre a compra ou venda da ação. Quando eu comecei a investir, esta lição era ainda mais crucial. No início, foi importante entender que uma ação não era somente um preço passando rapidamente na tela aleatoriamente, e sim uma participação em um negócio vivo e dinâmico. 

 

Confesso que quando iniciei na bolsa, assinava um serviço de informações por e-mail. Eu não conhecia nada melhor e, o melhor de tudo, ele prometia enriquecimento rápido!  Felizmente, não comprei nenhum papel indicado naquele troço e, em poucos meses comecei a ler livros como Beating the Street de Peter Lynch e The Warren Buffett Way de Robert Hagstrom, que me convenceram que a única forma de investimento é a focada no negócio. Todo o resto é pura jogatina. 

 

 2. Sua experiência como consumidor é apenas um ponto de partida para uma oportunidade de investimento em ações. 

 

Dada a importância da lição N. 1, as candidatas naturais a investimento, são aquelas companhias que fazem parte do nosso dia-a-dia  como  consumidores. Só que o auxílio da sua experiência como consumidor termina por aí. Eu só compreendi isto após a compra da minha primeira ação, a AOL (agora AOL Time Warner) em 1996. 

 

O papel da AOL desabou de $70 para $30. Como um entusiasta da mídia on-line, vi uma grande oportunidade na queda da AOL. Era fácil perceber que o negócio AOL era revolucionário e, também, a forma mais fácil de se conectar a internet. Como era de se esperar, eu não conhecia nada sobre a saúde financeira ou valor da firma, e tinha menos idéia ainda do valor de suas ações. Por sorte, meus instintos como consumidor se mostraram suficientes para um ganho de 50% em março de 97, quando vendi meus papéis. Foi, sem dúvida, um excelente ganho, mas, nada comparado ao que poderia ter recebido se tivesse me sentado sobre os papéis e esperado.

 

Depois de quatro desdobramentos de 2 para 1, que aconteceram desde aquela época, eu venderia as ações por um equivalente a $2,81 nos dias de hoje. Se eu compreendesse realmente o negócio por trás da AOL, poderia ter previsto que a companhia estava a caminho de gerar um fluxo de caixa livre considerável em poucos anos. Se eu soubesse como analisar o negócio e estimar o seu valor, teria ferramentas melhores para tomar uma decisão. Devido a minha decisão ter sido efetuada única e exclusivamente pelos meus conhecimentos de consumidor, posso me dar por satisfeito por ter caído fora com algum lucro. 

 

2.     Avaliação fora do contexto no negócio não vale nada. 

 

Quando eu vendi minha posição na AOL, tinha consciência que estava na hora de aprender alguma coisa sobre "esta tal de avaliação". Eu não sabia exatamente era por onde começar.  Em minhas primeiras tentativas, apliquei uma velha regra que dizia que quando uma ação estava próxima de seu preço justo, seu índice Preço/Lucro (P/L) estava próximo à taxa de crescimento do seu lucro por ação. Por exemplo, se a taxa de crescimento de lucro por ação era de 20%, então a ação deveria estar próxima de seu preço justo se o índice P/L fosse 20.Empregando esta lógica, descobri uma companhia chamada Micrion (não mais listada), que parecia ser uma verdadeira pechincha. 

 

 O único problema foi que, ao levar em conta a avaliação, esqueci da regra N. 1.  - Eu não fazia a menor idéia do que esta firma fazia, a não ser que tinha alguma coisa a ver com semicondutores.  Sem entrar em detalhes sobre esta história, eu perdi rapidamente 40% de todo capital investido naquele papel. Seria fácil evitar esta perda se eu tivesse gastado pelo menos 15 minutos olhando o balanço da empresa, que percebi mais tarde, estava muito ruim. Assim aprendi, da pior maneira, uma regra de ouro: "Uma porcaria barata é, ainda assim, uma porcaria". 

 

3.      Grana é o que interessa

 

Depois da minha experiência com a com a Micrion, descobri que meu problema foi colocar o carro antes dos bois. Antes de tentar avaliar um papel, é preciso identificar a qualidade do negócio. A minha revanche veio no dia 4 de setembro de 1997 quando  li o artigo de Tom Gardner  "introdução ao  fluxo de caixa" e descobri a profunda importância do balanço e da disponibilidade de dinheiro em um negócio. Foi aí que descobri uma lição vital: crescimento rápido de vendas e lucros no demonstrativo de resultados tem pouca relevância, se não traduzir-se em um aumento de dinheiro (e/ou diminuição das dívidas) no balanço. 

 

Durante os anos seguintes (1998-2000), aumentei meu conhecimento sobre a análise de negócios. Foi nesta época que consegui o meu emprego fixo no Foll. Durante o meu trabalho, recebi grande influência de Tom Gardner e comecei a entender que, os melhores negócios do mundo possuem características semelhantes: são difíceis de entrar, possuem um excelente histórico de vendas e um alto retorno do capital investido.Todas estas qualidades traduzem-se na existência de um grande fluxo de caixa livre - Provando que, afinal de contas, grana é o que interessa. 

 

Mesmo com todo o conhecimento adquirido neste período, a performance dos meus investimentos ainda era sofrível, dando a entender que a minha filosofia de investimento ainda permanecia fraca em alguma área chave. 

 

4. A qualidade do negócio é de grande importância, mas sozinha é insuficiente para escolha de um novo investimento. 

 

Depois da baixa de 2000 ficou claro para mim que na minha busca incessante pela qualidade nos negócio, prestei pouca atenção à avaliação. Agora, ao invés de colocar o carro antes dos bois, eu coloquei os bois no lugar certo, mas esqueci do carro! E isto foi um grande erro. 

 

Depois da queda da Nasdaq ficou claro para mim que meu entusiasmo por papéis de alta qualidade, porém superavaliados como o Yahoo! (Nasdaq: YHOO), estavam totalmente errados. A lição foi clara e dolorosa: A qualidade do negócio é de grande importância, mas não vale nada se o preço estiver muito alto. 

 

 5. Existe um preço em que quase todos os negócios passam a ser um investimento interessante. 

 

Em 2001, estas lições começaram a amadurecer e influenciar diretamente o modo como eu olhava para as companhias de alta qualidade. Como um exemplo posso citar a  eBay (Nasdaq: EBAY ) indicada em maio de 2001, que examinei tanto quanto ao negócio, como a avaliação. Também, em 2001, iniciei uma pesquisa com companhias de baixa qualidade, mas que eram vendidas a preços extraordinariamente baixos.  Uma destas companhias de valor oculto era a  ValueClick (Nasdaq: VCLK -), que eu recomendei inicialmente a $2.74 no final de  2001 .Este é o tipo de companhia que eu jamais teria recomendado como investimento alguns anos atrás. Não apenas porquê ela era vendida a menos de $5, uma ação de centavos, mas também pelos seus resultados, que apresentavam lucros inconstantes. 

 

Na época da minha recomendação, a  ValueClick possuía em seu balanço um total de $2.92 por ação de dinheiro em caixa. Enquanto isto, a ação era vendida a $2.74 no mercado. O investidor estaria levando o negócio da  ValueClick' de graça.  Até mesmo um negócio medíocre vale mais do que nada! Desde a época da minha recomendação, as ações da  ValueClick tiveram seus preços aumentados substancialmente. 

 

 Conclusão: 

 

Obviamente a minha carreira como investidor está apenas começando, e tenho a certeza hoje que outras lições serão adicionadas a estas seis. Por hora, minha forma predileta de investimento é aquela que procura por companhias em crescimento, de alta qualidade e vendidas a preços razoáveis. Dito isto, em certas ocasiões excepcionais, posso sacrificar a qualidade do negócio quando o preço for baixo o suficiente para compensar.  Afinal de contas, o que resta é sempre o valor.

 

Matt Richey é analista senior do The Motley Fool. Na época da publicação deste artigo ele não possuía nenhuma das companhias mencionadas. 

 

Traduzido e adaptado por SER-              

 

 

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