O Efeito do Tempo no Crescimento de uma Companhia.

 

                Como vimos anteriormente, um dos fatores críticos na avaliação de uma empresa é estimar  sua taxa de crescimento. No nosso caso, estimamos conservadoramente esta taxa em 10,5% para a Gerdau Metais, a empresa que estamos tomando como modelo para nosso estudo. 

Agora precisamos saber por quanto tempo esta empresa vai ter fôlego para crescer nesta taxa. Uma empresa típica  tem, pelo menos, duas fases em sua vida. Na primeira fase ela cresce a uma taxa muito alta, já que o Mercado está demandando bem o que ela tem a oferecer e por isto ela mesmo ela está crescendo. Neste momento a empresa necessita de muito capital para realizar a sua expansão e deve pagar o mínimo possível de dividendos a seus acionistas, já que ela consegue fazer com que o dinheiro investido na empresa consiga render mais do que se ela gasta com seu financiamento no Mercado. 

Mas, vai chegar um momento em que se esta empresa não vai conseguir crescer mais a esta taxa. Pode ser que aquele crescimento fabuloso seja interrompido por concorrentes que, verificando os retornos fabulosos da empresa, resolvam entrar neste nicho de mercado, conseqüentemente diminuindo as margens. Pode ser que esta empresa encontre um ponto de saturação de mercado e não conseguir mais expandir as suas vendas. Pode ser que esta empresa esteja com a sua capacidade instalada no limite. E mais um monte de “pode ser ” . É por isto que Philiph Fisher , o segundo Mestre de Buffet, dá tanta importância a análise qualitativa da empresa. Ele prega que se conheça as margens de lucro, seu domínio de mercado, sua  capacidade de pesquisa e desenvolvimento, se a empresa possui alguma exclusividade em termos de marcas e patentes e se a empresa mantém seu rendimento focado em apenas um produto.  Warren Buffet direciona muita importância ao fato da  empresa possuir  um monopólio de mercado, total ou relativo, para o seu produto ou serviço o que, sem dúvida, fará com que ela tenha maior controle sobre as suas margens e garantirá uma crescimento sem o “incômodo” da concorrência. 

O Fato é que, por um motivo ou por outro,  esta empresa vai chegar a um ponto em que sua taxa de crescimento irá diminuir e este novo crescimento se dará a uma taxa menor, “desacelerando” seu resultado. Isto prosseguirá até um ponto que esta empresa vai continuar crescendo, mas na mesma proporção que o seu setor e, provavelmente, a uma taxa próxima do crescimento da economia de seu país, que é a taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Este crescimento irá processar-se a partir daí indefinidamente. 

O “valor” resultante do crescimento contínuo de uma empresa por toda a vida a uma  taxa próxima do crescimento do PIB é chamado de Preço Terminal. Nesta fase madura a empresa deve estar com capital sobrando e não precisará fazer muitos investimentos para se manter operacional. Isto não quer dizer que a empresa esteja estagnada e que não esteja gerando dinheiro. Quer dizer que ela estará crescendo a uma taxa mais baixa e que, conseqüentemente, suas necessidades de investimento serão menores. É neste ponto que a empresa tem maior capacidade de distribuir dividendos, já que não consegue achar projetos de investimento que resultem em um retorno maior para o acionista do que ele conseguiria no mercado financeiro. Se a empresa possuir uma administração orientada para o acionista ela deve começa a distribuir mais dividendos e resistir ao que Warren Buffet chama de “imperativo institucional” que é a empresa preferir investir em projetos que destroem valor para o acionista ao invés de retornar o dinheiro para os verdadeiros donos da empresa. 

Gordon elaborou uma fórmula para medir o Preço Terminal de uma empresa:

Ela diz que o Preço Terminal é igual a 

DPA/k-g 

Aonde DPA são os dividendos por ação para o ano seguinte;

k é a taxa de desconto; e

g é a taxa de crescimento. 

Esta fórmula só serve para avaliar empresas com crescimento estável e que cresçam com uma taxa próxima da taxa de crescimento da economia (que é a taxa de crescimento do PIB). 

Vamos recapitular. 

Uma empresa tem pelo menos dois estágios. 

O primeiro é um estágio de crescimento rápido em que seu lucro cresce a uma taxa mais alta. O lucro nos dias de hoje desta empresa no ano seguinte será: o lucro deste ano multiplicado por g (taxa de crescimento) e dividido por 1+taxa de desconto (o que nós já definimos como  Valor Presente).

Calcularíamos isto sucessivamente, somando estes valores, ano após ano, até terminarmos o período de crescimento rápido. Neste  ponto a empresa passaria a ter uma taxa de crescimento menor, estável, próxima a taxa de crescimento da economia que poderia ser estimada pelo seu valor terminal. Este valor terminal teria também que ser trazido para os dias de hoje através da taxa de desconto, equivalente ao número de anos que demoraríamos para atingir o período estável (ou seja, o número de anos correspondente ao período de crescimento rápido). 

Agora então vamos enfrentar novos problemas. 

Quantos anos esta empresa irá crescer com esta taxa de crescimento rápido? Este é um problema crítico que, mesmo com bastante conhecimento da firma, continuará a ser uma dúvida. Talvez pudéssemos procurar um histórico de firmas semelhantes. Mas, mesmo assim, ainda estaríamos navegando em um mar de incertezas pois as condições reinantes devem ser completamente diferentes. E aí, como estimar este período? Bom, mesmo com estas dificuldades temos que introduzir algum valor para cálculo. Convencionou-se (chute mesmo) o uso de 10 anos, quando não se tem um outro parâmetro.

Começam as incertezas do cálculo. Se todo ano fizermos os cálculos do preço justo de uma empresa e adotarmos o período de 10 anos para o crescimento rápido, é claro que o preço justo irá subir  conseqüentemente todo ano, também. Esta talvez seja uma das razões porquê muitos reclamam que os preços justos estão sempre aumentando. 

Segundo problema: será possível que uma firma esteja crescendo a uma taxa de 10% reais e subitamente caia para 3,5% no ano seguinte só porquê passaram-se 10 anos? É razoável que esta empresa tenha várias taxas intermediárias antes ou depois destes 10 anos. Na planilha que utilizaremos para o cálculo do preço justo existe uma forma de “suavizar” esta queda bruta de taxa de crescimento. 

Terceiro problema: Qual será o payout na fase de crescimento lento ? Teoricamente ele seria maior. Mas como estamos no Brasil, terra do samba e futebol, e as coisas são “meio esquisitas” é melhor que, por margem de segurança, adotemos a mesma taxa conservadora do primeiro período levando em consideração que “o que vier a mais é lucro”. 

Vamos recapitular os dados que precisamos: 

Um “lucro base” para o início do cálculos;

Taxa de crescimento no 1º período (taxa de alto crescimento);

Taxa de desconto (adotamos a TJLP);

Payout para este período;

Duração do período de crescimento rápido (na dúvida, adotamos 10 anos).

  

Taxa de Crescimento no 2º Período (Taxa de crescimento lento - Normalmente a taxa de crescimento do PIB);

Taxa de desconto (também a TJLP);

Payout para este período. 

Veremos depois que cada pequena alteração destes “inputs” no nosso sistema irão resultar em uma enorme alteração de preço justo, razão pela qual não podemos acreditar piamente no preço justo informado por outras pessoas sem que saibamos quais foram as premissas que eles assumiram neste cálculo. 

Estamos prontos para iniciar o procedimento da "máquina de cálculo de preço justo."

 Um abraço 

SER-

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